terça-feira, 21 de novembro de 2023

 Artigo para a Revista MonteMayor;


 

“Tendo desde o princípio estado ao serviço

dos homens para facilitar os contactos, a água

teve em todo o tempo um papel considerável no desenvolvimento da civilização. Pode-se

mesmo dizer que a história foi colocada em

marcha a golpes de remo.”

Pierre Carnac

 

 

O Remo é utilizado como meio de transporte pelo Homem desde tempos imemoriais. Certamente na Pré história os rios e os lagos eram obstáculos difíceis de serem ultrapassados, árvores arrancadas ou troncos flutuantes foram com certeza as primeiras etapas da navegação efectuada pelo Homem.

Dada a precária estabilidade de um tronco os humanos depressa perceberam que juntando vários conseguiriam uma melhor navegação e protecção contra as ondas gerando a partir daí embarcações espetaculares e imprevisíveis.

 

Montemor, perto da Foz do Mondego deu a Portugal o maior aventureiro e explorador português – Fernão Mendes Pinto - que certamente terá remado nas suas viagens. Diogo de Azambuja -  Navegador, chegou a Capitão-Mor da Armada portuguesa encarregada de construir a Fortaleza de S. Jorge da Mina era também natural da vila. Foi também a terra portuguesa escolhida para possuir a primeira e única pista de Remo alguma vez construída no nosso País.

 

 

 

A História do Remo está povoada de civilizações que se aventuraram no desconhecido com “pequenas cascas de noz”. Os primeiros navios egípcios há mais de três milénios denominavam-se galeras, movidas por cerca de 20 remadores, podiam ser equipados também com velas e a direcção era conseguida através da utilização de um remo maior – Leme de Esparrela -. Os Fenícios, também há cerca de 3000 anos, eram grandes marinheiros e comerciantes e navegavam pela costa do Mediterrâneo com os seus barcos mercantes. Os Vikings pilhavam no Mar do Norte com os seus imponentes barcos de guerra movidos a Remos e à Vela – os Drakkar -. Fomos contudo nós, os portugueses, que revolucionámos o transporte marítimo através dos nossos Descobrimentos e da utilização da Caravela. A evolução da Navegação efectuada constituiu uma das pricipais causas do desenvolvimento da ciência e da técnica que ainda hoje não terminou.

Os navios de guerra da região do Mediterrâneo usavam a vela para trajectos mais longos e combatiam em águas costeiras impelidos por remadores. Guerreavam através da utilização de um Esporão colocado na proa para afundar as embarcações inimigas, por abalroamento ou transportavam soldados para conquistar o navio inimigo por abordagem. Alguns navios romanos utilizavam até catapultas a bordo. No Oriente, o Junco Chinês é desenvolvido como um navio de estrutura resistente, apesar de não ter quilha, no entanto há conhecimento que Juncos chineses navegaram pelos oceanos Índico e Pacífico.

 

Estes dois meios de propulsão (a força humana e a vela) coexistiram por muito tempo, mas o aperfeiçoamento dos Veleiros  eliminou gradualmente o transporte em embarcações a Remo. A vela tem a desvantagem de não poder ser usada com tempo calmo assim como os barcos a remo não podem ser utilizados em mares revoltos.

 

 

 

O Trireme era o barco mais veloz da antiguidade, mais estreito que os demais usava os remos na sua deslocação e na Batalha de Salamis em 480 AC, os Gregos com cerca de 380 embarcações venceram a armada Persa com perto de 600 barcos. Metade dos barcos Gregos eram triremes.

 

 

O transporte aquático, incluindo embarcações a remos e à vela, foi a única forma eficiente de transporte de grandes quantidades ou para grandes distâncias até à Revolução Industrial. A importância da água levou a que a maioria das cidades que se destacavam através do comércio se  desenvolvessem junto dos rios ou do mar. Até à Revolução Industrial, o transporte era demorado e dispendioso, a produção e o consumo mantinham-se o mais próximo possível. No século XIX, o advento das grandes invenções modificaram radicalmente o transporte, após a existência do telégrafo a comunicação tornou-se práticamente  instantânea e independente do transporte.

A utilização da máquina a vapor  nos transportes ferroviário e marítimo, tornou-o independente da força humana, do vento ou da tracção animal. Velocidade e capacidade cresceram rápidamente, permitindo a especialização e a produção passou a poder ser realizada independente da localização e dos recursos naturais.

Com o desenvolvimento do motor a combustão e consequentemente do automóvel o transporte rodoviário tornou-se mais viável. Posteriormente já no século XX, com a chegada do avião, e após a Primeira Grande Guerra, este tornar-se -ia a forma mais rápida de levar pessoas e mercadorias a longas distâncias.

Logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, o automóvel e o avião ganharam avanço no transporte, limitando o transporte ferroviário e marítimo ao transporte de carga e de curta distância para passageiros.

O Remo, como desporto tradicional dos ingleses, surge no século XVII, durante a época Vitoriana, mas fica muito popular a partir do século XIX. Em 1892, foi criada a organização internacional do Remo, chamada Fedération Internacionale des Sociétés D’Aviron (FISA), que é a entidade que actualmente regula o Desporto do Remo. Esta competição é a modalidade mais antiga de todos os desportos da modernidade.

A tradição de mais de quatro mil anos não envelhece o desporto do Remo que continua a gerar grande rivalidade e paixão entre os seus praticantes.

 

 

 

"Um remo só não leva o barco ao mar."


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