Artigo para a Revista MonteMayor;
“Tendo desde o princípio estado ao serviço
dos homens para facilitar os contactos, a água
teve em todo o tempo um papel considerável no
desenvolvimento da civilização. Pode-se
mesmo dizer que a história foi colocada em
marcha a golpes de remo.”
Pierre Carnac
O Remo é utilizado como
meio de transporte pelo Homem desde tempos imemoriais. Certamente na Pré
história os rios e os lagos eram obstáculos difíceis de serem ultrapassados,
árvores arrancadas ou troncos flutuantes foram com certeza as primeiras etapas
da navegação efectuada pelo Homem.
Dada a precária
estabilidade de um tronco os humanos depressa perceberam que juntando vários
conseguiriam uma melhor navegação e protecção contra as ondas gerando a partir
daí embarcações espetaculares e imprevisíveis.
Montemor, perto da Foz do
Mondego deu a Portugal o maior aventureiro e explorador português – Fernão
Mendes Pinto - que certamente terá remado nas suas viagens. Diogo de Azambuja
- Navegador, chegou a Capitão-Mor da
Armada portuguesa encarregada de construir a Fortaleza de S. Jorge da Mina era
também natural da vila. Foi também a terra portuguesa escolhida para possuir a
primeira e única pista de Remo alguma vez construída no nosso País.
A História do Remo está
povoada de civilizações que se aventuraram no desconhecido com “pequenas cascas
de noz”. Os primeiros navios egípcios há mais de três milénios denominavam-se
galeras, movidas por cerca de 20 remadores, podiam ser
equipados também com velas e a direcção era conseguida através da utilização de
um remo maior – Leme de Esparrela -. Os Fenícios, também há cerca de 3000 anos,
eram grandes marinheiros e comerciantes e navegavam pela costa do Mediterrâneo
com os seus barcos mercantes. Os Vikings pilhavam no Mar do Norte com os seus
imponentes barcos de guerra movidos a Remos e à Vela – os Drakkar -. Fomos
contudo nós, os portugueses, que revolucionámos o transporte marítimo através
dos nossos Descobrimentos e da utilização da Caravela. A evolução da Navegação
efectuada constituiu uma das pricipais causas do desenvolvimento da ciência e
da técnica que ainda hoje não terminou.
Os navios de guerra da
região do Mediterrâneo usavam a vela para trajectos mais longos e
combatiam em águas costeiras impelidos por remadores. Guerreavam através da
utilização de um Esporão colocado na proa para afundar as embarcações inimigas,
por abalroamento ou transportavam soldados para conquistar o navio inimigo por
abordagem. Alguns navios romanos utilizavam até catapultas a bordo. No Oriente,
o Junco Chinês é desenvolvido como um navio de estrutura
resistente, apesar de não ter quilha, no entanto há conhecimento que Juncos
chineses navegaram pelos oceanos Índico e Pacífico.
Estes dois meios de
propulsão (a força humana e a vela) coexistiram por muito tempo, mas o
aperfeiçoamento dos Veleiros eliminou gradualmente o transporte em embarcações
a Remo. A vela tem a desvantagem de não poder ser usada com tempo calmo assim
como os barcos a remo não podem ser utilizados em mares revoltos.
O Trireme era o barco
mais veloz da antiguidade, mais estreito que os demais usava os remos na sua
deslocação e na Batalha de Salamis em 480 AC, os Gregos com cerca de 380
embarcações venceram a armada Persa com perto de 600 barcos. Metade dos barcos
Gregos eram triremes.
O transporte aquático, incluindo
embarcações a remos e à vela, foi a única forma eficiente de transporte de
grandes quantidades ou para grandes distâncias até à Revolução Industrial. A importância da água levou a que a maioria das
cidades que se destacavam através do comércio se desenvolvessem junto dos rios ou do mar. Até
à Revolução Industrial, o transporte era demorado e dispendioso, a produção e o
consumo mantinham-se o mais próximo possível. No século XIX, o advento das
grandes invenções modificaram radicalmente o transporte, após a existência do telégrafo a comunicação tornou-se práticamente instantânea e independente do transporte.
A utilização da máquina a vapor nos transportes ferroviário e
marítimo, tornou-o independente da força humana, do vento ou da tracção animal.
Velocidade e capacidade cresceram rápidamente, permitindo a especialização e a
produção passou a poder ser realizada independente da localização e dos
recursos naturais.
Com o desenvolvimento do motor a combustão e consequentemente do automóvel o transporte rodoviário tornou-se mais viável. Posteriormente já no século XX, com a chegada do
avião, e após a Primeira Grande Guerra, este tornar-se -ia a forma mais rápida
de levar pessoas e mercadorias a longas distâncias.
Logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, o automóvel e o avião ganharam avanço no
transporte, limitando o transporte ferroviário e marítimo ao transporte de
carga e de curta distância para passageiros.
O Remo, como
desporto tradicional dos ingleses, surge no século XVII, durante a
época Vitoriana, mas fica muito popular a partir do século XIX. Em 1892, foi
criada a organização internacional do Remo, chamada Fedération Internacionale
des Sociétés D’Aviron (FISA), que é a entidade que actualmente regula o
Desporto do Remo. Esta competição é a modalidade mais antiga de todos os
desportos da modernidade.
A tradição de mais de
quatro mil anos não envelhece o desporto do Remo que continua a gerar grande
rivalidade e paixão entre os seus praticantes.
"Um remo só não leva
o barco ao mar."
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