Gago Coutinho Faria anos hoje a minha contribuição para a sua história na Associação Naval de Lisboa:
Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu em
Belém, Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1869. Filho primogénito de José Viegas Gago
Coutinho, marítimo, natural de Faro e de Fortunata Maria Coutinho, natural de
Faro, moradores na Calçada da Ajuda nº 5. Foi baptizado na Igreja de Santa
Maria de Belém a 2 de Junho de 1869, morreu na Freguesia de Santa Engrácia às
18h05 do dia 18 de Fevereiro de 1959.
Era assim que descrevia a
sua família:
«Meu pai era
um homem de reduzida educação literária. Só a primária, mas conhecia escrita
comercial, em que praticava. Sargento de mar-e-guerra até 1873, serviu na nau
Vasco da Gama e na fragata D. Fernando. Era homem alto, desempenado, bem
branco. (...) falecendo em Lisboa com 93 anos. Meus avós eram livreiros em
Faro. (...) De minha mãe, senhora pequena, algarvia, filha de padeiros, e que
devia ter ascendência moura, nada mais sei a não ser que um irmão dela era
patrão de um cahique da costa (...). (...) Desde os 8 anos que foi minha mãe
adoptiva uma amiga de minha mãe, D. Maria Augusta Pereira, falecida em 1914.»
Em 1885 Gago Coutinho concluiu o curso do
Liceu e devido aos fracos recursos materiais de seu pai não conseguiu
satisfazer a vontade de frequentar um curso de Engenharia na Alemanha,
matriculou-se então na Escola Politécnica para preparar a sua entrada na Escola
Naval, um ano depois. Entrou para a Armada como aspirante em 1886. Em 1890 foi
promovido a guarda-marinha, em 1891 a segundo-tenente, e em 1895 possuía já a
patente de primeiro-tenente. Em 1907 foi promovido ao posto de capitão-tenente
e em 1915 a capitão-de-fragata. Em 1920 era já capitão-de-mar-e-guerra. Em 1922
foi promovido ao posto de vice-almirante, e em 1958 um ano antes de falecer, a
almirante.
O seu primeiro grande embarque foi na
corveta “Afonso de Albuquerque”, de 7 de Dezembro de 1888 a 16 de Janeiro de
1891, numa viagem para Moçambique pertencente à Divisão Naval da África
Oriental. Seguidamente passou à canhoneira “Zaire”, na qual navegou até 24 de
Abril de 1891, viajando de regresso a Lisboa. Colocado na Divisão Naval da
África Ocidental, embarcou sucessivamente na lancha-canhoneira “Loge”, que
comandou, na canhoneira “Limpopo”, na canhoneira “Zambeze”, e na corveta
“Mindelo”. Durante o serviço nesta corveta no Brasil, em 1894, adoeceu com a
febre-amarela, foi então internado no Hospital da Beneficência Portuguesa no
Rio de Janeiro. Já em Portugal, esteve embarcado na canhoneira “Liberal” e na
corveta “Duque da Terceira”. Foi nesta corveta que fez nova viagem ao Atlântico
Norte. Viajou depois até Moçambique na embarcação de transporte “Pero de
Alenquer” e, a seguir, ingressou na corveta “Rainha de Portugal”, embarcou
então na canhoneira “Douro”, que o trouxe para Lisboa. Fez parte da guarnição
da corveta couraçada “Vasco da Gama”, até 31 de Março de 1898, da qual passou
para a sua primeira comissão como geógrafo ultramarino, em Timor.
De
espírito inovador, era sincero e austero, afirmava: «Gosto de controvérsias,
de tudo o que possa esclarecer, pois sou comunicativo como todos os homens do
mar. Gosto da discussão que faz luz...». Normalmente modesto ao fazer as
suas apresentações e conferências nas academias, qualidade que, segundo os que
com ele conviviam, vinha cultivando desde sempre: «(durante a travessia), o
meu papel foi secundário.» (Gago Coutinho, 30/03/1942). Também muito
imaginativo, tinha sempre uma resposta de espírito pronta para dar, ou uma
anedota para contar. Em resposta à pergunta: como tinha atravessado África a
pé? Resposta pronta de Gago Coutinho: «Como havia de ser? Com as botas
rotas, para a água sair mais à vontade, porque, para entrar, entrava sempre.»
Assinalável
é também o seu gosto pelo desporto, visto não ser muito comum na época em que
viveu. Desde adolescente que o praticava, remo, vela e especialmente ginástica
com aparelhos. Já com alguma idade, ainda trabalhava com as argolas montadas
numa trave do tecto na Rua da Madragoa, para se manter em forma. A prática
desportiva interessava-o, e dedicou-lhe algumas das suas palavras, das quais
temos o exemplo aquando da conferência do 71º. aniversário do Real Ginásio
Clube Português (1946). Foi Secretário
Geral da Real Associação Naval/Associação Naval de Lisboa e rezam as crónicas
que foi ele quem deu, em Portugal, o primeiro curso de Patrão da Náutica de
Recreio, em 1900, na Real Associação Naval. Já no inicio do século XX
organizava com frequência conferências no seu clube náutico.
Das
suas diversas viagens destacamos:
1893 –
No Mindelo (Luanda - Rio de Janeiro), cujo
comandante era o grande almirante Augusto de Castilho
1896 -
No Pero de Alenquer (Lisboa – Lourenço Marques), seguindo
na medida do possível a histórica rota de Vasco da Gama, na sua viagem rumo à
Índia, travessia que tão grandes ensinamentos lhe veio a fornecer para os seus
estudos sobre "Náutica
dos Descobrimentos".
Já com
75 anos fez, a bordo da barca portuguesa Foz
do Douro, uma nova travessia à vela, Santos – Leixões, durante a qual
navegou 105 dias, utilizando o histórico astrolábio, como os antigos mareantes
portugueses, confirmando, assim, as suas opiniões sobre as rotas por estes
seguidas.
Calcula-se,
por conseguinte, que durante toda a sua vida, o almirante teria navegado 30837
milhas o que, por certo, constitui um recorde para todos os oficiais do seu
tempo. A sua missão, a bordo dos barcos em que prestou serviço, foi, quase
exclusivamente, de "oficial encarregado da navegação", daqui vindo a
resultar o conhecimento que manteve com o sextante
clássico.
De
1913 a 1914 Gago Coutinho comandou a
missão de delimitação da fronteira Angola com a Rodésia, surgindo como
seu colaborador o segundo-tenente Arthur de
Sacadura Cabral a quem o almirante apelidava de «observador de fina
vista».
A
competência do geógrafo levou à sua nomeação pelo Ministério da Guerra, em
1928, a presidente da Comissão, para propor a reorganização dos serviços
geográficos, cadastrais e cartográficos. Neste mesmo ano passou igualmente a
vogal da comissão encarregada de estudar o estabelecimento de um aeroporto nos
Açores, e a navegação aérea nas colónias
Desempenhou
ainda as funções de Presidente da Comissão de Cartografia, contribuíndo
eficazmente para a criação da missão geográfica de Moçambique e para a solução
definitiva da fronteira luso-belga na região do Dilolo.
Assim,
o seu interesse pela aviação não surgiu apenas do espírito Romântico que esta
inspirava, mas principalmente do caracter científico do almirante. Gago
Coutinho pressentiu na aviação uma hipótese de novas descobertas científicas,
onde desejava aplicar os seus inúmeros conhecimentos e pesquisar quer a nível
marítimo quer a nível terrestre. O emprego, quase diário, que havia feito, em
África, durante as suas missões de geógrafo, do sextante e o grande
conhecimento sobre este instrumento, eram mais que suficientes para justificar
a sua opinião. Assim, Gago Coutinho foi um dos primeiros oficiais de Marinha a
oferecer-se para ir ao estrangeiro obter a sua «Carta de piloto do ar», uma vez
que a de «piloto do mar» já tinha há alguns anos. Tirou o Brevet em França em
1915, num frágil Maurice
Farman, o "baptismo do ar" do almirante realizou-se em Portugal,
mais propriamente na Escola de Aviação Militar em Vila Nova da Rainha,
acompanhado pelo já piloto-aviador Sacadura. Nesta escola, foi, mais tarde,
instrutor.
A
propósito da sua passagem pela escola referida, e já no contexto das
experiências aéreas na companhia, de Sacadura Cabral, o almirante comenta:
«Vou
ao aeródromo de Vila Nova da Rainha e dou três voos com o Sacadura. Total, 35
minutos no ar. Admirável a segurança; demos vários saltos, curvas, etc. até
governei um pouco. Pareceu-me bastante fácil e muito mais seguro do que eu
julgava. Em todo o caso, entusiasmei-me.»
Esta foi a primeira de algumas
das suas experiências de voo que culminariam com a Travessia
Aérea do Atlântico Sul, que consagra o nome de Gago Coutinho como aviador, na
História Nacional.
OBRAS PUBLICADAS:
Algumas determinações
de longitude feitas ultimamente em África pela missão da fronteiro do Barotze,
1915
As determinações de
latitude pela missão da fronteira Barotze, 1915
Impressões de duas
viagens através de África entre Angola e Moçambique, 1915
Relatório da missão
geodésica de São Tomé. 1920
Relatório da viagem
aérea Lisboa-Rio de Janeiro, 1923 (de colaboração de Sacadura Cabral)
Tentativa de
interpretação simples da teoria da relatividade restrita, 1926
O roteiro da viagem de
Vasco da Gama e a sua versão nos Lusíadas, 1930
Desdobramento da
derrota de Vasco da Gama nos Lusíadas, 1931
Possibilidade da rota
única de Vasco da Gama em Os Lusíadas. Impossibilidade de Vasco da Gama ter de
Cabo Verde navegado para o Sul, 1931
Pela Segunda vez,
possibilidade de ler em Os Lusíadas uma rota única de Vasco da Gama, 1933
Gaspar Côrte-Real, 1933
Alguns erros em que se
apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1933
Continuação dos erros
em que se apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1934
Passagem do Cabo
Bojador, 1935
Influência que as
primitivas viagens portuguesas à América do Norte tiveram sobre o descobrimento
das Terras de Santa Cruz, 1937
O almirante foi também colaborador da Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
Bibliografia
ALBUQUERQUE, Luís de, Curso de História da Náutica, Lisboa, Alfa, 1989.
BOLÉO, José de Oliveira, Gago Coutinho e Sacadura Cabral,
Lisboa, Sociedade de Geografia, 1972.
CORRÊA, Pinheiro, Gago Coutinho, Precursor da
Navegação Aérea, Porto, Portucalense Editora, 1969.
Correia, José Pedro Pinheiro,
LEMOS; Carlos M. Oliveira e, O Almirante Gago Coutinho,
Lisboa, Instituto Hidrográfico, 2000.
REIS, Manuel dos, CORTESÃO, Armando, Gago Coutinho Geógrafo,
Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar, 1970, sep. de Memórias da Academia das Ciências
de Lisboa, Tomo XIII, 1969.
http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/index1.html
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