quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Um bom Timoneiro


UM BOM TIMONEIRO

Todo o desportista que seja timoneiro deve possuir as seguintes qualidades gerais:
Robustez física necessária, num corpo leve e não muito alto, para se poder acomodar bem numa embarcação; boas qualidades morais para se impor à equipa que tem de timonar; muito boa vista, ter a intuição das distâncias, não só para evitar abalroamentos como também para avaliar o espaço em que a sua equipa se deve empregar a fundo; muito boa voz, não só para admoestar a sua tripulação em qualquer falta técnica como também para lhe levantar a moral durante uma regata.
Deve conhecer muito bem a técnica de Remo para poder dar uma instrução eficiente
quando simultaneamente for instrutor e timoneiro, e saber exemplificar correctamente
qualquer dos tempos em que se divide a remada. Também deve saber as afinações do
diverso material de um barco, tais como as medidas entre o pau de voga, as forquetas, os sliders, etc. a fim de aproveitar assim ao máximo os esforços dos remadores.
É importante conhecer as possibilidades físicas dos componentes da sua equipa, para não exigir deles um esforço físico que lhes seja prejudicial.
Tem de saber nadar bem e ainda estar habilitado a prestar socorros a náufragos, dentro e
fora de água. A sua pontualidade à hora marcada deve ser exemplar, não se poupando a quaisquer sacrifícios, servindo assim de modelo à sua equipa.

CUIDADOS A TER ANTES DE SAIR PARA A ÁGUA

Para se ser metódico na preparação do barco, não esquecer de verificar: se a palamenta
respectiva pertence ao barco designado; se os remos estão em bom estado, bem
distribuídos pelos lugares da sota e da voga e com o tacão em condições; se as forquetas
estão bem seguras, verificando o estado dos parafusos e porcas; se não existe qualquer
obstrução no movimento de rotação das forquetas onde o remo deve entrar e rodar
facilmente.
Examinará: o leme e o estado dos gualdropes exercendo uma tensão nos mesmos para
evitar partir-se após ter saído para a água; todo o cavername, falsa quilha, tabuado do
costado e a ligação solidária de todo o conjunto; o alinhamento das forquetas pelo percurso do slider e o bom funcionamento deste, para o que bastará executar todo o percurso, exercendo uma pressão com a mão no sentido vertical; os rodízios e as calhas, sua limpeza e lubrificação.
Convém ainda observar: o estado dos paus de voga e respectivas correias ou sapatos, e se no barco que vai sair leva algum arame de cobre, adesivo, chave bocas, alicate e uma
esponja para poder remediar uma possível avaria.
Antes de embarcar, destinará a cada remador o lugar em que deve sentar-se, se a tripulação não estiver definitivamente constituída, designando-lhe o remo que lhe pertence, o qual deve ser verificado pelo próprio remador se está em condições.
Não deve pensar em sair para a água, se o estado do tempo não o permitir, a água estiver
demasiado revolta e a prancha de embarque não estiver com espaço para colocar a
embarcação.
O barco deve ser retirado para fora do posto náutico, hangar ou pavilhão com todos os
cuidados e atenções requeridas numa manobra quase sempre difícil, já por falta de espaço, já pela colocação dos remadores que procedem a tal operação, que deve ser vigiada e mesmo dirigida pelo timoneiro.



COLOCAÇÃO DO BARCO NA ÁGUA

Se a saída de uma embarcação do posto náutico requer muito cuidado, não devem ter-se
menores atenções na sua condução para água, e esta recomendação, deve ser sempre feita pelo timoneiro que auxiliará o transporte do barco, dirigindo depois a manobra da sua colocação na água, operação delicada quando se trata de barcos tipo Shell e principalmente de um oito.
Como as condições dos locais de embarque, divergem nos clubes existentes em Portugal, não há, correctamente, um processo idêntico a adoptar, com uniformidade, para se proceder à colocação dos barcos na água; porém em qualquer dos casos, a melhor maneira é efectua-lo após prévias vozes de advertência e execução proferidas pelo timoneiro.
Orientando o procedimento dos remadores, evitar-se-á que o material sofra choques
violentos no seu primeiro contacto com a água ou prejuízos ao acostar a embarcação na
prancha que deve ter uma largura e um comprimento tais que permitam o embarque
simultâneo de toda a tripulação.
O embarque deve ser efectuado disciplinadamente e ao timoneiro compete instruir a
tripulação, para poder faze-lo com segurança e simultaneamente, indicando aos remadores como devem colocar o remo, entrar com os pés sobre os paneiros, sentar-se no slider. Etc.

NORMAS E PREOCUPAÇÕES DO TIMONEIRO

A sua principal preocupação será o governo da embarcação, para evitar avarias do material e desastres pessoais.
Executará os treinos, de preferência no local onde se realizarem as regatas em que tomar
parte; se não for acompanhado por uma embarcação com o treinador, quando treinar
tripulações, procurará melhorar a técnica da sua equipa, sem prejuízo da sua condição
física, não esquecendo que os grandes percursos fazem os grandes remadores, desde que estes não adquirem defeitos e tendo sempre presente que uma boa técnica suplanta
sempre a força, desde que não falte o fôlego.
Não permitirá observações entre tripulantes, e poupará, na medida do possível, o Voga,
lembrando-se que ele é a alma da equipa e, como tal, deve ser respeitado por todos os
restantes componentes da tripulação.
Timonando um Shell, procurará evitar sempre a mareta causada por qualquer embarcação, afastando-se dela tanto quanto possível ou colocando-se de través (quando já não possa afastar-se) afundando os remos desse bordo para evitar a entrada da água no barco. Nunca deve:
 - Aproximar-se de um paquete ou rebocador em marcha (as suas hélices atraem as embarcações leves e a esteira não as deixa governar);
 - Passar entre um barco e a muralha ou outro barco (um estoque de água transformará a sua equipa em sanduíche);
 - Aproximar-se, na vazante forte, de qualquer bóia ou embarcação de pequeno calado que esteja fundeada (uma e outra em poucos segundos deslocam-se para junto do nosso barco);
 - Passar pelas embarcações à vela a não ser por barlavento e afastado delas, redobrando de cuidados no caso de haver correntes fortes;
 - Confiar no fundo com baixa-mar, porque existem pedras a poucos centímetros da superfície da água;
 - Desprezar todos os cuidados ao entrar numa doca, sair ou rondar um paredão, pois as surpresas são muitas;
 - Empregar o leme a fundo, mas sim por partes e enquanto os remos estiverem dentro de água;
 - Fazer as mudanças de rumo, só com o leme, antes mandando abrandar a sota ou a voga, como ajuda necessária.
Em qualquer época do ano procurará um abrigo para a sua equipa após um treino violento, seja qual for o estado do tempo, mandando agasalhar os remadores antes de
desembarcarem.
Para a saída da água, recondução do barco e sua recolha no posto náutico, deve ter os
mesmos cuidados e atenções que dispensou quando o retirou do hangar e o colocou na
água, sendo indispensável, para uma atracação a acostagem segura, ter um auxiliar na prancha, ou em terra que o ajude nessa operação. A equipa desembarcará também toda ao mesmo tempo se já estiver instruída para esse fim e, contrariamente, procurará o timoneiro exercitá-la para, com segurança, assim proceder de futuro.

CUIDADOS A TER ANTES DE UMA REGATA

Se o não tiver já feito, na véspera da corrida deve o timoneiro verificar o local da prova
para tomar conhecimento dos fundos, força da corrente, ventos, embarcações fundeadas no percurso (ou próximo), revezas de água, etc., a fim de os evitar durante a regata.
Após a última saída ou treino, antes da corrida, vistoriará o barco e palamenta para se
poder reparar ainda qualquer avaria ou deficiência que só então se note. Não esquecerá
fazer à sua tripulação todas as recomendações que julgar úteis ou repetir os conselhos do treinador que porventura acompanhe a equipa.
No dia da prova procederá o próprio timoneiro a uma lubrificação das calhas, rodízios e
forquetas; prenderá os paus de voga, com cabos (reforços sempre aconselháveis)
certificando-se novamente do bom estado do leme e dos gualdropes e que as solas dos
remos não estão deterioradas. Deve conhecer a Regeira onde tem de colocar-se, possuir o galhardete do seu clube à proa da embarcação, afixando o respectivo número de pista que lhe foi atribuído.
Até ao momento oportuno de embarcar e sair par o local das largadas, terá reunida, e em
descanso, toda a tripulação; irá alinhar com uma voga lenta indicando de antemão o local referenciado onde a equipa deve dar a embalagem final e onde fica a meta de chegada.

CONDUTA DO TIMONEIRO NO INÍCIO, DURANTE E APÓS A REGATA

Segurará a Regeira (no caso) com a mão esquerda e os gualdropes com a mão direita,
sentando-se bem no barco a fim de o equilibrar.
Recomendará à equipa: a máxima atenção, não olharem para fora, encostarem os pés ao
pau de voga e o tacão do remo à forqueta, segurarem bem o punho do remo com as duas
mãos, conservarem os remos com o mesmo ângulo do remo do voga, pás em cutelo e
completamente mergulhadas na água; corrigirá o alinhamento do barco, utilizando o proa, num barco de 4, e o proa e o 3 num barco de 8, não utilizando os restantes remadores a não ser que a corrente ou o vento, a isso obriguem.
Ao aviso de preparar para largar do Júri de largada, deve o barco estar alinhado e os
remadores preparados para a largada. Não deixará olhar para fora a equipa nesta ocasião, porque geralmente seguem-se as vozes de largada. Não estando em condições de largar levantará o braço indicando o motivo porque não pode largar. São motivos bastantes: o ter o adversário à frente, não ter o barco alinhado ou ter o barco muito próximo de qualquer adversário, do que pode resultar um toque de remos ou um choque de embarcações.
À voz de Larga!, som de tiro de largada ou luz verde, soltará um enérgico “UM” que seja bem ouvido por toda a tripulação e que deve corresponder ao ataque do Voga, seguido da voz “DOIS”, também enérgico, e correspondente ao safar do remo do Voga.
Ao sinal da largada, a mão esquerda abandona a Regeira (se for caso disso), para que esta não se vá embaraçar no lema, indo logo segurar o respectivo gualdrope.
Marcará bem as dez primeiras remadas e procurará tomar o comando da prova, não se
aproximando demasiado das outras tripulações, mas também não se afastar muito,
procurando sempre seguir nas suas águas, não cortando as do adversário.
Empregará o leme muito suavemente, para não tirar o seguimento do barco, fazendo-o
sempre com as pás dos remos dentro de água e estando sempre atento a qualquer advertência do árbitro, cumprindo-a rigorosamente.
Quando haja qualquer irregularidade cometida por equipa adversa, chamará a atenção do árbitro, continuando sempre a sua tripulação a remar até que ele próprio dê a voz de Leva.
Marcará sempre as remadas do Voga, interrompendo-se só para advertir qualquer remador ou a equipa, de uma falta técnica, nunca esquecendo que só com uma remada comprida e rápida é que pode bater um adversário que remo nas mesmas condições; em 2000 metros, poupe a equipa ate aos 1500, se os outros concorrentes consentirem, não a poupando no entanto nos 500 metros finais, a fim de conseguir um bom tempo.
Nunca deixará de se preocupar com o rumo. O vento e as correntes podem alterá-lo e,
nestas condições, tem que exigir um esforço maior à sua equipa, com prejuízo do resultado da prova ou do tempo que pretender fazer, no caso de correr em contra-relógio. Verificará se, no seu rumo, tem qualquer obstáculo pela frente e não esqueça que este não foge de si, mas nós é que temos de fugir dele. Faça sempre o rumo de forma a entrar sempre dentro da meta, tendo esta preocupação, principalmente nos últimos 500 metros.
Aproveite qualquer guinada de um adversário que vá à frente, para ocupar as suas águas, se forem melhores; sempre que um barco adverso se atire para cima do seu, advirta o timoneiro em voz alta, no caso do árbitro não o ter feito já e por forma a que todos o ouçam.
Embora atrasado, em relação às restantes tripulações, entre sempre na meta remando com energia e estilo.
Finalmente, nunca tente prejudicar os seus adversários, porque o desporto do Remo põe à prova a lealdade e a correcção dos seus praticantes.
Ao terminar uma prova deve saudar os membros do Júri, qualquer entidade oficial que
tenha assistido à regata e os adversários, pela ordem que chegarem, indo junto deles.
No caso de haver algum protesto não esquecer que a embarcação terá que estar dentro de água para a sua validade.
Mandará agasalhar a equipa e seguir para terra se o barco for necessário para outra prova, conservando-se no mesmo se a maioria da equipa assim o desejar. Não se realizando uma prova de remo todos os dias, notificará a equipa da forma como se portou, elogiando-a ou repreendendo-a, conforme as circunstância, não deixando de lhe observar os defeitos, a fim de serem corrigidos de futuro.
Não deixará a equipa arrefecer após o esforço violento da prova, obrigando-a tomar banho e a vestir-se imediatamente após a lavagem do barco e sua palamenta e respectivo arrumo da embarcação.
Carlos Henriques








segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Vocabulário de Remo

Apresento o meu trabalho sobre o Vocabulário de Remo em Exposição na Associação Naval de Lisboa com o apoio da Maria José Leite e da Arte Franca







segunda-feira, 14 de outubro de 2019

The Antiphase Rowing - Remo "descoordenado"


Laura Cuijpers tem estudado o movimento do barco np Remo e chegou a esta conclusão:

“Se todos remarem ao mesmo tempo, o barco - a cada remada - fará uma pausa por um tempo”, explica a cientista de movimento Laura Cuijpers, da Universidade de Groningen, na Holanda, no NOS Radio 1 Journal. “É por isso que é melhor os remadores remarem alternadamente. Dessa forma, o barco é acelerado mais continuamente o tempo todo. ”Fonte: NOS Journal, 12 de setembro de 2019

Esta hipótese já tinha sido experimentada pelo London Rowing Club cerca de 1929






A velocidade extrema leva a soluções à partida inimagináveis e a um consumismo incalculável! 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

As Sedes da Associação Naval de Lisboa

Sedes da Associação Naval de Lisboa:


A primeira “Carreira de Barcos”, era assim que se denominava a regata de remo e vela, foi organizada por Abel Power Dagge, Edward Shirley, Alex Hudson e G. A. Hangcock em1850. Na reunião de preparação da regata esteve presente o comandante da escuna britânica Vixen onde o júri da prova estaria instalado. A 19 de Agosto de 1852 realizou-se outra regata em Belém que teve a honra de ser divulgada no Jornal inglês The Illustrated London News do dia 11 de Setembro. São célebres, pelo menos a partir de 1853, as Regatas de Paço de Arcos, em barcos à vela e a remos, promovidas pelo Conde das Alcáçovas, Abel Power Dagge, Hermann Moser e por um grupo de aristocratas, por ocasião dos festejos anuais. No programa da Regata do Tejo de 11 de Setembro de 1854 constava a participação de duas guigas de 4 remos, tripuladas por “curiosos”. Nesta regata a prova de Vela foi ganha por Frederico Burnay vencendo uma Taça de Prata (O primeiro troféu conhecido de uma regata em Portugal). Na Regata organizada em 24 de Julho de 1855 havia provas de Remo e Vela. Esta regata veio dar lugar à Comissão Promotora da Real Associação Naval.
Na sequência destes eventos foi fundada em1855 a Real Associação Naval (actual Associação Naval de Lisboa), a mais antiga agremiação desportiva da Península Ibérica e uma das mais antigas do mundo. Sob a protecção de D. Pedro V a Real Associação Naval foi fundada numa reunião presidida pelo Infante D. Luís no Hotel Bragança e a primeira Assembleia-Geral realizou-se a 6 de Abril de 1856 no Arsenal de Marinha presidida por S. Alteza o Infante D. Luiz, Duque do Porto que presidiu a todas as sessões de Assembleia Geral até à sua ascensão ao trono por morte de seu irmão, passando nessa data a Comodoro, cargo que exerceu até ao seu falecimento, substituindo-o depois El Rei D. Carlos.
Neste largo período de vida a ANL tem trabalhado a favor do desporto náutico sendo inúmeras as Regatas e diversões náuticas promovidas.
Após a fundação do seu rival de Lisboa manteve-se um pouco afastada da prática desportiva continuando, no entanto, sempre a organizar grandes certames náuticos tais como o Centenário da Índia com as disputas da Taça Vasco da Gama em Vela e a célebre corrida de Guigas de 6 remos em 1898.
Em 1902 devido à “ (…) enérgica iniciativa do secretário do conselho executivo, o Sr. Virgílio Costa, é reorganizada a secção de remos, reaparecendo sobre as águas do Tejo as suas guigas que por muitos anos se conservaram guardadas (…) ” in Ilustração Portugueza 29 maio 1905.
Foi por altura de 1863 que se começou a falar sobre a necessidade de construção de uma Sede em Lisboa ou Paço de Arcos (“apenas quando houvesse um fundo de caixa de pelo menos 10 contos de reis”), até aí as reuniões e AG iam tendo lugar no Arsenal de Marinha ou em casa dos seus mais ilustres sócios.
Em 1878 por altura da proeza do Conde de Silvã, seu sócio, que fez a viagem entre os Açores e Lisboa a sua sede era na Rocha Conde D´Óbidos tendo já estado num andar arrendado na Rua de Santa Catarina passando então depois para o actual edifício da Cruz Vermelha.
Seguidamente para obter mais espaço, devido à crescente prática da Ginástica na Associação, os directores mudaram a sua sede para um r/c e primeiro andar do nº 45 da Rua do Alecrim. A mudança custou 2000$000 réis e como não havia dinheiro emitiram-se Acções e Obrigações para custear a mudança.
Por falta de mais dados sabemos que em 1899 a sede da Associação era no topo oeste da Doca de Alcântara, edifício esse que ardeu e com ele muita da história do nosso clube.
Em 1902 a Associação não possuía nem sede nem Posto Náutico, por esse facto a prática do Remo e Vela era nula, devemos então a Virgílio Costa a reorganização do clube com a instalação da Sede e Posto Náutico, em Pedrouços, nos anos seguintes (Na altura a Liga Naval propôs a fusão entre o CNL e ANL havendo inclusive várias reuniões).
No ano de 1905 a Associação muda-se novamente para a Doca de Alcântara até que, em 1910, foi alugada a S/L da Rua Ivens nº 72 pertencente ao Clube Tauromáquico e a Liga Naval também nos cedeu algumas salas nas suas instalações, que “luxo havia duas sedes”.
Por altura de 1914 “ (…) continuou a luta do Conselho Executivo pela sede, e levou a sua perseverança a fazer um requerimento para obter terreno no Cais do Sodré, e abriu uma subscrição (…) ” mas até tínhamos uma sede na Rua Nova do Almada 81 mas porque era considerada pequena fizemos então a mudança para o Palácio Palmela, no Calhariz. Neste mesmo ano o nosso Posto Náutico estava instalado na Sede do Clube Naval de Lisboa, no Cais da Viscondessa, por manifesta bondade do Clube.
Em 1915 alugou-se um armazém na Cruz Quebrada para albergar as escolas da Associação e no ano seguinte já possuíamos um Posto Náutico em Pedrouços junto à Torre de Belém.
No princípio dos anos 20 para a Vela tínhamos a Chalupa Albatroz e o Posto Náutico de Alcântara, o Remo tinha o seu sonhado Posto Náutico no Cais do Gás, sede da ANL. Contudo em 1923 por falta de verbas para manutenção fomos forçados a vender a Albatroz e em 1927 vendemos as instalações do Cais do Sodré ao Porto de Lisboa por 37$500 escudos, restava apenas o Posto Náutico de Alcântara.
Em 1931 construímos o nosso actual Posto de Remo da Doca de Santo Amaro, sede do clube e um Pavilhão de Regatas na praia de Pedrouços.
Nesse mesmo ano nos Postos Náuticos efectivou-se a construção de quatro Stars para os sócios Armando Gama, Francisco Ribeiro Ferreira, Ernesto de Mendonça e Joaquim Fiúza, uns remos com madeira spruce vinda de França e, também, o sócio José Duarte deslocou-se a este País para trazer os planos de construção do YOLLE.
Em 1934 por iniciativa do remador Eliseu de Carvalho, Tesoureiro da ANL, a secção de Vela torna-se autónoma financeira e administrativamente, com a aprovação dos novos Estatutos. Foi nesta data então que o clube praticamente se dividiu em dois.
Em 1935 mais uma calamidade: ardeu o Posto Náutico da Doca de Alcântara.
O ano de 1937 marcou a vida da ANL com o protocolo assinado com a Mocidade Portuguesa para o ensino e prática do Remo e da Vela dos jovens daquela associação estatal.
1938 Foi um ano de melhoramento dos postos náuticos de Pedrouços e Santo Amaro onde estava situada a nossa Sede Social. No entanto em 1939 o de Pedrouços teve que ser parcialmente demolido para dar lugar à construção da Marginal Lisboa-Cascais e em 1940 um Ciclone que assolou a região de Lisboa destruiu as instalações que havia na praia de Pedrouços.
Com a ida da Vela para os edifícios que não foram demolidos da Exposição do Mundo Português a nossa Sede Social passou a ser em Belém até à presente data.
Queremos ainda salientar o abandono de um Posto Náutico que havia na Trafaria em 1951 e em 1955 a construção do 2º andar na Sede em Belém.
 A Secção de Remo foi sofrendo obras de melhoramento ao longo dos anos tais como a renovação do telhado, no princípio dos anos 90, a colocação dos portões actuais e a divisão entre o Hangar e a Zona Social em 1996.
Existe já um projecto para acrescentar mais uma nave ao edifício imprescindível ao desejado crescimento da Secção de Remo.   







  

quarta-feira, 31 de julho de 2019

A primeira Selecção Nacional de Remo:

Apesar da federação portuguesa do Remo só ter sido fundada em !920 foi em 1919 que se formou a primeira Selecção Nacional de remo para os Jogos Interaliados em Paris.
Como não se realizaram os Jogos Olímpicos, em virtude de estar a decorrer a 1ª Grande Guerra as
Nações Aliadas organizaram estas provas, em vários desportos, para “moralizar os soldados e aproximar os países amigos”.
Um misto da ANL e do CNL, remou em Shell 8 e Shell 4, foram eles: Timoneiro: Ricardo Dias, Remadores: Augusto Talone, Jorge Ferro, Virgílio Silva, Carlos Sobral, João Sasseti, José Branco, João Silva, Gabriel Ribeiro no Shell de oito,
e no Shell de quatro: Timoneiro: Augusto Neuparth, os Remadores: Carlos Burnay, Raul Brito, Rodrigo Bessone Basto e José Serra Pereira
Como suplentes:
Henrique Aragão, António Diniz, Humberto Reis e Carlos Sá Pereira.


As selecções foram formadas a pedido do Sr. General Alves Roçadas:


Os Atletas:



Participação Geral das outras modalidades:


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Remo no Mundo


O Remo como meio de propulsão, que consiste em colocar a pá dentro de água com um ponto de apoio na borda da embarcação é utilizado desde sempre. Sendo mais fácil em mares abrigados, não invalida, no entanto, o seu uso na travessia dos Oceanos como nos foi demonstrado pelos “Drakkars” Vikings.



Tendo começado, certamente pela utilização de um tronco flutuante o Homem foi desenvolvendo embarcações cada vez mais sofisticadas através da união de troncos chegando até aos impressionantes Trirremes,

  
Trirreme

                                          


que utilizavam cerca de 170 remadores. Foram usados no Mediterrâneo, onde os homens chegavam a morrer à fome, à sede ou em pleno combate nessas embarcações.



                      
                                                               


O Remo como desporto de competição é um dos mais antigos e tradicionais, regatas entre galeras faziam parte das civilizações egípcias, gregas e romanas. Na Odisseia, Homero fala-nos numa viagem de Ulisses, pela ilha de Ítaca, num barco a remos, enquanto que na Eneida, Virgílio conta-nos que Eneias, príncipe de Tróia, homenageou seu pai, com uma disputa entre quatro barcos, movidos por duzentos remadores acorrentados às embarcações. O Faraó Amenophis II foi imortalizado na sua tomba remando, há também excertos de uma regata em Veneza no ano de 1315.
Apesar do Remo ser muito popular entre profissionais só no início dos anos 1700 é que o desporto se popularizou entre cidadãos amadores quando principiaram as regatas ao longo do Tamisa, das quais a mais antiga que se conhece é a Doggett´s Coat and Badge Race que toma lugar desde 1715.

                                             
                                                                                                        
 Largada da 1ª Doggett´s  Badge Race                                                                      Doggett´s badge

 Em 17 Julho de 1717 realizou-se um Festival de Água da qual fazia parte uma regata de remo em Chelsea, no Tamisa, que obtinha muitos patrocinadores e que constituiu a possibilidade para Handel compor a sua “Water Music” a pedido do Rei George I. Nos finais do século XVIII o Remo começou a fazer parte do desporto Universitário o que lhe proporcionou um grande incremento, principalmente depois de em 1829 ter sido estabelecida a primeira das tradicionais regatas entre Oxford e Cambridge. Dez anos volvidos e efectuava-se a primeira das célebres regatas de Henley.
Nos Estados Unidos a regata de Yale contra Harvard teve o seu início em 1852. O Canadiano Ned Hanlan (conhecido como “The Boy In Blue”, dado que envergava uma camisola azul) a nível profissional sagrou-se Campeão do Mundo entre 1880 e 1884 em Skiff, ainda antes das Olimpíadas.
Ned Hanlan


O pai dos Jogos olímpicos, Barão Pierre de Coubertain, escreveu várias vezes sobre o desporto do Remo, uma das quais com esta bela frase que nos transmite a ideia geral do Remo “O intenso esforço do remador, a harmonia e o sincronismo dos seus movimentos na transposição das barreiras naturais fazem do Remo um desporto ideal”.


Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos, em Ouchy ©

A Federation Internationale dês Societès d´Aviron (FISA), fundada em 1892, é a mais antiga de todas as Federações desportivas, possui a sua sede em Lausanne e conta com mais de uma centena de membros. A Federação Portuguesa do Remo, uma das mais antigas de Portugal, fundada em 1920 é membro da FISA desde 1922.

                                                                           
                FPR                                                                                      
                                                                                            FISA
Apesar da técnica de Remo não ter sofrido grandes alterações ao longo do tempo, o desenho, a construção e o peso do equipamento utilizado no desporto do Remo sofreu grandes modificações em especial no século vinte.
As primeiras embarcações de corrida eram de casco trincado robustas e pesadas, o atleta utilizava apenas os braços e o tronco como meio de propulsão. Existiam com um, dois, quatro seis e oito remadores, actualmente desapareceram as de seis. Os barcos eram conhecidos como inriggers ou outriggers conforme a sua forqueta ou tolete era colocada directamente no casco, ou utilizavam uns acrescentos em metal, as aranhas (que apareceram por volta de 1828). Em outriggers remava-se no Skiff ou Single de um atleta com remos parelhos, no Pair-Oar de dois atletas, cada um com um remo de ponta e timoneiro, no Double Skull de dois atletas com remos parelhos, sem timoneiro e nos de quatro, seis e oito remadores com timoneiro e remos de ponta.
A beleza do Remo encontra-se no ritmo dos atletas que impulsionam a embarcação (“A Sinfonia do Movimento”como descrevia o construtor George Pocock). O estilo e o ritmo têm variado ao longo dos anos, sendo que actualmente, a remada consiste num movimento cadenciado e distinto durante o seu ciclo. A remada pode ser dividida em várias partes, iniciando-se no ataque, com a tomada de água, a passagem do remo na água e o final com o safar do remo (saída da pá da água), depois vem o deslize do remador com o remo fora de água e o início de um novo ciclo da remada. O remador está sentado de costas para a proa da embarcação, o movimento é gerado por uma sequência de Pernas, Tronco e Braços e o deslize fora de água é o inverso com Braços, Tronco e por fim as Pernas. 
Basicamente podemos dividir a modalidade em Remo de Ponta e de Parelhos. No Remo de Ponta o atleta segura um remo, com cerca de 3,90 metros, utilizando para isso as duas mãos, na disciplina de Parelhos, o remador segura um remo em cada mão, de cerca de 3m de comprimento. Os remos começaram por ser em madeira mas actualmente são construídos em material compósito, ultralight.


Actualmente no Remo Olímpico, só existem barcos de tipo Shell (sucessores dos outriggers) podendo ser divididos no Skiff (1X) – Um atleta com dois remos parelhos, o Double Skull (2X) – com dois atletas de remos parelhos, o Quadri Skull (4X) – quatro atletas com remos parelhos, o Shell de dois sem timoneiro (2-) – dois atletas com remos de ponta, o Quatro sem timoneiro (4-) – quatro atletas cada um com o seu remo de ponta, e o barco rei do Remo o Shell de oito (8+) – oito atletas com timoneiro e cada atleta com um remo de ponta; competimos ainda em Shell de dois com timoneiro (2+) – dois atletas com um remo de ponta cada e com um timoneiro, no Quatro com timoneiro (4+) – quatro atletas com um remo de ponta cada e com um timoneiro, embora estas últimas duas embarcações não pertençam ao alinhamento dos Jogos Olímpicos, por razões economicistas. O comprimento das embarcações varia entre cerca de sete metros no Skiff e dezoito metros no Oito, que é dividido em duas partes, para melhor ser transportado. Durante as regatas de Remo o plano de água permite o alinhamento de pelo menos seis tripulações, em pistas com um mínimo de 12,50 m até um máximo de 15m de largura e um comprimento de 2 Km em linha recta. As pistas são delimitadas por bóias que estão colocadas com um intervalo de 12,2 m. Nos rios de maior caudal é usual, em Portugal, especialmente em Lisboa, remar com uma embarcação de casco trincado com sete tábuas de cada lado – o Yolle – que é utilizado em barcos de quatro e oito atletas com timoneiro e remos de ponta. O Yolle (sucessor das Guigas) é uma embarcação na qual os atletas se colocam em zigzag e não em fila como no Shell ficando a forqueta colocada nas falcas portanto, sem aranhas (inrigger).
Para direccionar as embarcações o timoneiro utiliza o leme, uma peça móvel em torno de um eixo colocado na ré e dirigido por uns cabos, chamados gualdropes (ou galdropes). Nas embarcações quando não existe timoneiro o leme é comandado por um dos remadores através do seu sapato (pé).
               
Em 1857 J.C. Babcock de New York inventou uma forma de slide num Skiff e em 1870 adaptou-o num barco de seis remos. O slide ou carrinho veio dar um grande incremento no andamento da embarcação pois possibilitou a utilização das pernas na remada. Em 1875 Michael Davis patenteou a forqueta com travinca e no ano seguinte desenvolveu uma embarcação com aranhas móveis. As aranhas móveis foram mais tarde proibidas pela FISA e por este facto não é usado, apesar de possibilitar um andamento muito superior à das embarcações com aranhas normais.

M.F. Davis patent#165,072                                  


                                            
                                                                   M.F. Davis patent#209,960


Em 1893 a FISA organizou o seu primeiro Campeonato da Europa de Remo, em Orta, Itália, nesse mesmo ano fundou-se em Cambridge`s Newnham College a primeira Sociedade de Remo Feminino.
Em 1896 foram eliminadas das Regatas de Boston City as provas com profissionais. Ainda nesse ano, na Grécia, realizaram-se as I Olimpíadas modernas das quais o Remo fazia parte, no entanto as provas foram canceladas devido ao mau tempo. Desde essa data que o Remo faz parte dos Jogos Olímpicos sendo o único desporto com essa continuidade e longevidade.



CARTAZ DOS J.O. 1896



Em 1916 o Remo para ligeiros, atletas com menos de 72,5 Kg, foi introduzido nas universidades americanas por Joe Wright na Pensilvânia, ao mesmo tempo que, em Inglaterra, Steve Fairbairn começava a treinar no estilo que ficou com o seu nome e obtinha excelentes resultados.
Em 1923 formava-se em Inglaterra a Women`s Amateur Rowing Association e em 1927 a tradicional Boat Race (Oxford - Cambridge), foi pela primeira vez televisionada pela BBC enquanto se iniciava também a regata Oxford – Cambridge em Femininos.

100th race   A 100ª REGATA OXFORD – CAMBRIDGE

Nos anos seguintes o Remo continuou a ser um dos desportos mais praticados ao mesmo tempo que se assistia a um grande incremento técnico e de material, as embarcações tornaram-se mais leves e sofisticadas e as tripulações evidenciaram uma técnica mais apurada devido ao aumento do treino e do seu controle. Durante o período da II guerra mundial as competições foram praticamente todas suspensas. Com a divisão europeia nos dois blocos também o Remo sofreu grandes diferenças na sua técnica e estilo havendo duas grandes escolas, – a Alemã Ocidental e a dos países de Leste com a sua política de desporto nacional.
Em 1954 realizaram-se os primeiros Campeonatos da Europa de Femininos que foram dominados pela União Soviética. No ano de 1962 competiram-se em Lucerna os primeiros Campeonatos do Mundo realizados pela FISA, assim como em 1967 a primeira regata FISA Júnior foi organizada em Ratzburg na Alemanha.
Durante o ano de 1969 foi construída a primeira embarcação desenhada para Remo de Recreio (o Alden Ocean Shell, lançado por Arthur Martin) o que veio introduzir uma nova vertente no Desporto mais antigo do Mundo.
Nos mundiais de 1970 os alemães orientais conseguiram medalhas de ouro ou prata em todas as provas.
Em 1974 pela primeira vez realizaram-se em Lucerna os Campeonatos do Mundo para Pesos Ligeiros e para Femininos em que a distância para elas era de 1000 metros. Ainda nesta distância realizaram-se em Montreal, em 1976 as primeiras Regatas Olímpicas de Femininos. Na vertente de Pesos Ligeiros as classes Femininas e Masculinas só fizeram parte do emblema olímpico em 1996, nos Jogos de Atlanta.

Foi em 1977 que os irmãos Dreissigacker começaram a construir remos de material compósito e em 1981 lançaram também no mercado o ergómetro Concept II que veio revolucionar o treino do remo e universalizar um dos desportos mais completos que se pratica.
O primeiro Campeonato do Mundo de Femininos Pesos Ligeiros teve lugar no ano de 1985 em Hazewinkel em que a distância de prova para as mulheres foi igualada à dos homens.
Em 1991 mais uma vez os Dreissigacker desenharam e lançaram no mercado uma inovação – os remos com pá de cutelo – que com o aumento do tamanho da pá iria ajudar os atletas com pior técnica mas que em equipas de topo nunca se chegou à conclusão da sua real vantagem, apesar da seguinte universalização das pás Big Blade (um melhoramento da pá de cutelo que fica sem a espinha). Ao longo das épocas estes remos continuam sofrendo várias alterações mínimas que apenas servem a economia e o consumismo da empresa americana.
Nesse mesmo ano como não podia deixar de ser, foi inaugurado em Inglaterra, pela Rainha Isabel II o Museu do Remo com o nome de River and Rowing Museum.

No limiar do século XXI o britânico Steve Redgrave conquistou a sua quinta medalha de Ouro olímpica em cinco olimpíadas consecutivas algo nunca conseguido por outro atleta em desportos de endurance. Outro atleta, também remador e inglês, Jack Beresford conseguiu três medalhas de ouro e duas de prata em cinco olimpíadas, tendo sido apenas traído pelo cancelamento dos Jogos Olímpicos que se deviam realizar em 1940.