quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Um bom Timoneiro


UM BOM TIMONEIRO

Todo o desportista que seja timoneiro deve possuir as seguintes qualidades gerais:
Robustez física necessária, num corpo leve e não muito alto, para se poder acomodar bem numa embarcação; boas qualidades morais para se impor à equipa que tem de timonar; muito boa vista, ter a intuição das distâncias, não só para evitar abalroamentos como também para avaliar o espaço em que a sua equipa se deve empregar a fundo; muito boa voz, não só para admoestar a sua tripulação em qualquer falta técnica como também para lhe levantar a moral durante uma regata.
Deve conhecer muito bem a técnica de Remo para poder dar uma instrução eficiente
quando simultaneamente for instrutor e timoneiro, e saber exemplificar correctamente
qualquer dos tempos em que se divide a remada. Também deve saber as afinações do
diverso material de um barco, tais como as medidas entre o pau de voga, as forquetas, os sliders, etc. a fim de aproveitar assim ao máximo os esforços dos remadores.
É importante conhecer as possibilidades físicas dos componentes da sua equipa, para não exigir deles um esforço físico que lhes seja prejudicial.
Tem de saber nadar bem e ainda estar habilitado a prestar socorros a náufragos, dentro e
fora de água. A sua pontualidade à hora marcada deve ser exemplar, não se poupando a quaisquer sacrifícios, servindo assim de modelo à sua equipa.

CUIDADOS A TER ANTES DE SAIR PARA A ÁGUA

Para se ser metódico na preparação do barco, não esquecer de verificar: se a palamenta
respectiva pertence ao barco designado; se os remos estão em bom estado, bem
distribuídos pelos lugares da sota e da voga e com o tacão em condições; se as forquetas
estão bem seguras, verificando o estado dos parafusos e porcas; se não existe qualquer
obstrução no movimento de rotação das forquetas onde o remo deve entrar e rodar
facilmente.
Examinará: o leme e o estado dos gualdropes exercendo uma tensão nos mesmos para
evitar partir-se após ter saído para a água; todo o cavername, falsa quilha, tabuado do
costado e a ligação solidária de todo o conjunto; o alinhamento das forquetas pelo percurso do slider e o bom funcionamento deste, para o que bastará executar todo o percurso, exercendo uma pressão com a mão no sentido vertical; os rodízios e as calhas, sua limpeza e lubrificação.
Convém ainda observar: o estado dos paus de voga e respectivas correias ou sapatos, e se no barco que vai sair leva algum arame de cobre, adesivo, chave bocas, alicate e uma
esponja para poder remediar uma possível avaria.
Antes de embarcar, destinará a cada remador o lugar em que deve sentar-se, se a tripulação não estiver definitivamente constituída, designando-lhe o remo que lhe pertence, o qual deve ser verificado pelo próprio remador se está em condições.
Não deve pensar em sair para a água, se o estado do tempo não o permitir, a água estiver
demasiado revolta e a prancha de embarque não estiver com espaço para colocar a
embarcação.
O barco deve ser retirado para fora do posto náutico, hangar ou pavilhão com todos os
cuidados e atenções requeridas numa manobra quase sempre difícil, já por falta de espaço, já pela colocação dos remadores que procedem a tal operação, que deve ser vigiada e mesmo dirigida pelo timoneiro.



COLOCAÇÃO DO BARCO NA ÁGUA

Se a saída de uma embarcação do posto náutico requer muito cuidado, não devem ter-se
menores atenções na sua condução para água, e esta recomendação, deve ser sempre feita pelo timoneiro que auxiliará o transporte do barco, dirigindo depois a manobra da sua colocação na água, operação delicada quando se trata de barcos tipo Shell e principalmente de um oito.
Como as condições dos locais de embarque, divergem nos clubes existentes em Portugal, não há, correctamente, um processo idêntico a adoptar, com uniformidade, para se proceder à colocação dos barcos na água; porém em qualquer dos casos, a melhor maneira é efectua-lo após prévias vozes de advertência e execução proferidas pelo timoneiro.
Orientando o procedimento dos remadores, evitar-se-á que o material sofra choques
violentos no seu primeiro contacto com a água ou prejuízos ao acostar a embarcação na
prancha que deve ter uma largura e um comprimento tais que permitam o embarque
simultâneo de toda a tripulação.
O embarque deve ser efectuado disciplinadamente e ao timoneiro compete instruir a
tripulação, para poder faze-lo com segurança e simultaneamente, indicando aos remadores como devem colocar o remo, entrar com os pés sobre os paneiros, sentar-se no slider. Etc.

NORMAS E PREOCUPAÇÕES DO TIMONEIRO

A sua principal preocupação será o governo da embarcação, para evitar avarias do material e desastres pessoais.
Executará os treinos, de preferência no local onde se realizarem as regatas em que tomar
parte; se não for acompanhado por uma embarcação com o treinador, quando treinar
tripulações, procurará melhorar a técnica da sua equipa, sem prejuízo da sua condição
física, não esquecendo que os grandes percursos fazem os grandes remadores, desde que estes não adquirem defeitos e tendo sempre presente que uma boa técnica suplanta
sempre a força, desde que não falte o fôlego.
Não permitirá observações entre tripulantes, e poupará, na medida do possível, o Voga,
lembrando-se que ele é a alma da equipa e, como tal, deve ser respeitado por todos os
restantes componentes da tripulação.
Timonando um Shell, procurará evitar sempre a mareta causada por qualquer embarcação, afastando-se dela tanto quanto possível ou colocando-se de través (quando já não possa afastar-se) afundando os remos desse bordo para evitar a entrada da água no barco. Nunca deve:
 - Aproximar-se de um paquete ou rebocador em marcha (as suas hélices atraem as embarcações leves e a esteira não as deixa governar);
 - Passar entre um barco e a muralha ou outro barco (um estoque de água transformará a sua equipa em sanduíche);
 - Aproximar-se, na vazante forte, de qualquer bóia ou embarcação de pequeno calado que esteja fundeada (uma e outra em poucos segundos deslocam-se para junto do nosso barco);
 - Passar pelas embarcações à vela a não ser por barlavento e afastado delas, redobrando de cuidados no caso de haver correntes fortes;
 - Confiar no fundo com baixa-mar, porque existem pedras a poucos centímetros da superfície da água;
 - Desprezar todos os cuidados ao entrar numa doca, sair ou rondar um paredão, pois as surpresas são muitas;
 - Empregar o leme a fundo, mas sim por partes e enquanto os remos estiverem dentro de água;
 - Fazer as mudanças de rumo, só com o leme, antes mandando abrandar a sota ou a voga, como ajuda necessária.
Em qualquer época do ano procurará um abrigo para a sua equipa após um treino violento, seja qual for o estado do tempo, mandando agasalhar os remadores antes de
desembarcarem.
Para a saída da água, recondução do barco e sua recolha no posto náutico, deve ter os
mesmos cuidados e atenções que dispensou quando o retirou do hangar e o colocou na
água, sendo indispensável, para uma atracação a acostagem segura, ter um auxiliar na prancha, ou em terra que o ajude nessa operação. A equipa desembarcará também toda ao mesmo tempo se já estiver instruída para esse fim e, contrariamente, procurará o timoneiro exercitá-la para, com segurança, assim proceder de futuro.

CUIDADOS A TER ANTES DE UMA REGATA

Se o não tiver já feito, na véspera da corrida deve o timoneiro verificar o local da prova
para tomar conhecimento dos fundos, força da corrente, ventos, embarcações fundeadas no percurso (ou próximo), revezas de água, etc., a fim de os evitar durante a regata.
Após a última saída ou treino, antes da corrida, vistoriará o barco e palamenta para se
poder reparar ainda qualquer avaria ou deficiência que só então se note. Não esquecerá
fazer à sua tripulação todas as recomendações que julgar úteis ou repetir os conselhos do treinador que porventura acompanhe a equipa.
No dia da prova procederá o próprio timoneiro a uma lubrificação das calhas, rodízios e
forquetas; prenderá os paus de voga, com cabos (reforços sempre aconselháveis)
certificando-se novamente do bom estado do leme e dos gualdropes e que as solas dos
remos não estão deterioradas. Deve conhecer a Regeira onde tem de colocar-se, possuir o galhardete do seu clube à proa da embarcação, afixando o respectivo número de pista que lhe foi atribuído.
Até ao momento oportuno de embarcar e sair par o local das largadas, terá reunida, e em
descanso, toda a tripulação; irá alinhar com uma voga lenta indicando de antemão o local referenciado onde a equipa deve dar a embalagem final e onde fica a meta de chegada.

CONDUTA DO TIMONEIRO NO INÍCIO, DURANTE E APÓS A REGATA

Segurará a Regeira (no caso) com a mão esquerda e os gualdropes com a mão direita,
sentando-se bem no barco a fim de o equilibrar.
Recomendará à equipa: a máxima atenção, não olharem para fora, encostarem os pés ao
pau de voga e o tacão do remo à forqueta, segurarem bem o punho do remo com as duas
mãos, conservarem os remos com o mesmo ângulo do remo do voga, pás em cutelo e
completamente mergulhadas na água; corrigirá o alinhamento do barco, utilizando o proa, num barco de 4, e o proa e o 3 num barco de 8, não utilizando os restantes remadores a não ser que a corrente ou o vento, a isso obriguem.
Ao aviso de preparar para largar do Júri de largada, deve o barco estar alinhado e os
remadores preparados para a largada. Não deixará olhar para fora a equipa nesta ocasião, porque geralmente seguem-se as vozes de largada. Não estando em condições de largar levantará o braço indicando o motivo porque não pode largar. São motivos bastantes: o ter o adversário à frente, não ter o barco alinhado ou ter o barco muito próximo de qualquer adversário, do que pode resultar um toque de remos ou um choque de embarcações.
À voz de Larga!, som de tiro de largada ou luz verde, soltará um enérgico “UM” que seja bem ouvido por toda a tripulação e que deve corresponder ao ataque do Voga, seguido da voz “DOIS”, também enérgico, e correspondente ao safar do remo do Voga.
Ao sinal da largada, a mão esquerda abandona a Regeira (se for caso disso), para que esta não se vá embaraçar no lema, indo logo segurar o respectivo gualdrope.
Marcará bem as dez primeiras remadas e procurará tomar o comando da prova, não se
aproximando demasiado das outras tripulações, mas também não se afastar muito,
procurando sempre seguir nas suas águas, não cortando as do adversário.
Empregará o leme muito suavemente, para não tirar o seguimento do barco, fazendo-o
sempre com as pás dos remos dentro de água e estando sempre atento a qualquer advertência do árbitro, cumprindo-a rigorosamente.
Quando haja qualquer irregularidade cometida por equipa adversa, chamará a atenção do árbitro, continuando sempre a sua tripulação a remar até que ele próprio dê a voz de Leva.
Marcará sempre as remadas do Voga, interrompendo-se só para advertir qualquer remador ou a equipa, de uma falta técnica, nunca esquecendo que só com uma remada comprida e rápida é que pode bater um adversário que remo nas mesmas condições; em 2000 metros, poupe a equipa ate aos 1500, se os outros concorrentes consentirem, não a poupando no entanto nos 500 metros finais, a fim de conseguir um bom tempo.
Nunca deixará de se preocupar com o rumo. O vento e as correntes podem alterá-lo e,
nestas condições, tem que exigir um esforço maior à sua equipa, com prejuízo do resultado da prova ou do tempo que pretender fazer, no caso de correr em contra-relógio. Verificará se, no seu rumo, tem qualquer obstáculo pela frente e não esqueça que este não foge de si, mas nós é que temos de fugir dele. Faça sempre o rumo de forma a entrar sempre dentro da meta, tendo esta preocupação, principalmente nos últimos 500 metros.
Aproveite qualquer guinada de um adversário que vá à frente, para ocupar as suas águas, se forem melhores; sempre que um barco adverso se atire para cima do seu, advirta o timoneiro em voz alta, no caso do árbitro não o ter feito já e por forma a que todos o ouçam.
Embora atrasado, em relação às restantes tripulações, entre sempre na meta remando com energia e estilo.
Finalmente, nunca tente prejudicar os seus adversários, porque o desporto do Remo põe à prova a lealdade e a correcção dos seus praticantes.
Ao terminar uma prova deve saudar os membros do Júri, qualquer entidade oficial que
tenha assistido à regata e os adversários, pela ordem que chegarem, indo junto deles.
No caso de haver algum protesto não esquecer que a embarcação terá que estar dentro de água para a sua validade.
Mandará agasalhar a equipa e seguir para terra se o barco for necessário para outra prova, conservando-se no mesmo se a maioria da equipa assim o desejar. Não se realizando uma prova de remo todos os dias, notificará a equipa da forma como se portou, elogiando-a ou repreendendo-a, conforme as circunstância, não deixando de lhe observar os defeitos, a fim de serem corrigidos de futuro.
Não deixará a equipa arrefecer após o esforço violento da prova, obrigando-a tomar banho e a vestir-se imediatamente após a lavagem do barco e sua palamenta e respectivo arrumo da embarcação.
Carlos Henriques








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