UM BOM TIMONEIRO
Todo o
desportista que seja timoneiro deve possuir as seguintes qualidades gerais:
Robustez física
necessária, num corpo leve e não muito alto, para se poder acomodar bem numa
embarcação; boas qualidades morais para se impor à equipa que tem de timonar;
muito boa vista, ter a intuição das distâncias, não só para evitar
abalroamentos como também para avaliar o espaço em que a sua equipa se deve
empregar a fundo; muito boa voz, não só para admoestar a sua tripulação em
qualquer falta técnica como também para lhe levantar a moral durante uma
regata.
Deve conhecer
muito bem a técnica de Remo para poder dar uma instrução eficiente
quando
simultaneamente for instrutor e timoneiro, e saber exemplificar correctamente
qualquer dos
tempos em que se divide a remada. Também deve saber as afinações do
diverso material
de um barco, tais como as medidas entre o pau de voga, as forquetas, os
sliders, etc. a fim de aproveitar assim ao máximo os esforços dos remadores.
É importante
conhecer as possibilidades físicas dos componentes da sua equipa, para não
exigir deles um esforço físico que lhes seja prejudicial.
Tem de saber
nadar bem e ainda estar habilitado a prestar socorros a náufragos, dentro e
fora de água. A
sua pontualidade à hora marcada deve ser exemplar, não se poupando a quaisquer
sacrifícios, servindo assim de modelo à sua equipa.
CUIDADOS A TER
ANTES DE SAIR PARA A ÁGUA
Para se ser
metódico na preparação do barco, não esquecer de verificar: se a palamenta
respectiva
pertence ao barco designado; se os remos estão em bom estado, bem
distribuídos
pelos lugares da sota e da voga e com o tacão em condições; se as forquetas
estão bem
seguras, verificando o estado dos parafusos e porcas; se não existe qualquer
obstrução no
movimento de rotação das forquetas onde o remo deve entrar e rodar
facilmente.
Examinará: o
leme e o estado dos gualdropes exercendo uma tensão nos mesmos para
evitar partir-se
após ter saído para a água; todo o cavername, falsa quilha, tabuado do
costado e a
ligação solidária de todo o conjunto; o alinhamento das forquetas pelo percurso
do slider e o bom funcionamento deste, para o que bastará executar todo o
percurso, exercendo uma pressão com a mão no sentido vertical; os rodízios e as
calhas, sua limpeza e lubrificação.
Convém ainda
observar: o estado dos paus de voga e respectivas correias ou sapatos, e se no
barco que vai sair leva algum arame de cobre, adesivo, chave bocas, alicate e
uma
esponja para
poder remediar uma possível avaria.
Antes de
embarcar, destinará a cada remador o lugar em que deve sentar-se, se a
tripulação não estiver definitivamente constituída, designando-lhe o remo que
lhe pertence, o qual deve ser verificado pelo próprio remador se está em
condições.
Não deve pensar
em sair para a água, se o estado do tempo não o permitir, a água estiver
demasiado
revolta e a prancha de embarque não estiver com espaço para colocar a
embarcação.
O barco deve ser
retirado para fora do posto náutico, hangar ou pavilhão com todos os
cuidados e
atenções requeridas numa manobra quase sempre difícil, já por falta de espaço,
já pela colocação dos remadores que procedem a tal operação, que deve ser
vigiada e mesmo dirigida pelo timoneiro.
COLOCAÇÃO DO
BARCO NA ÁGUA
Se a saída de
uma embarcação do posto náutico requer muito cuidado, não devem ter-se
menores atenções
na sua condução para água, e esta recomendação, deve ser sempre feita pelo
timoneiro que auxiliará o transporte do barco, dirigindo depois a manobra da
sua colocação na água, operação delicada quando se trata de barcos tipo Shell e
principalmente de um oito.
Como as
condições dos locais de embarque, divergem nos clubes existentes em Portugal,
não há, correctamente, um processo idêntico a adoptar, com uniformidade, para
se proceder à colocação dos barcos na água; porém em qualquer dos casos, a
melhor maneira é efectua-lo após prévias vozes de advertência e execução
proferidas pelo timoneiro.
Orientando o
procedimento dos remadores, evitar-se-á que o material sofra choques
violentos no seu
primeiro contacto com a água ou prejuízos ao acostar a embarcação na
prancha que deve
ter uma largura e um comprimento tais que permitam o embarque
simultâneo de
toda a tripulação.
O embarque deve
ser efectuado disciplinadamente e ao timoneiro compete instruir a
tripulação, para
poder faze-lo com segurança e simultaneamente, indicando aos remadores como
devem colocar o remo, entrar com os pés sobre os paneiros, sentar-se no slider.
Etc.
NORMAS E
PREOCUPAÇÕES DO TIMONEIRO
A sua principal
preocupação será o governo da embarcação, para evitar avarias do material e
desastres pessoais.
Executará os
treinos, de preferência no local onde se realizarem as regatas em que tomar
parte; se não
for acompanhado por uma embarcação com o treinador, quando treinar
tripulações,
procurará melhorar a técnica da sua equipa, sem prejuízo da sua condição
física, não
esquecendo que os grandes percursos fazem os grandes remadores,
desde que estes não adquirem defeitos e tendo sempre presente que uma boa
técnica suplanta
sempre a força, desde que não
falte o fôlego.
Não permitirá
observações entre tripulantes, e poupará, na medida do possível, o Voga,
lembrando-se que
ele é a alma da equipa e, como tal, deve ser respeitado por todos os
restantes
componentes da tripulação.
Timonando um
Shell, procurará evitar sempre a mareta causada por qualquer embarcação,
afastando-se dela tanto quanto possível ou colocando-se de través (quando já
não possa afastar-se) afundando os remos desse bordo para evitar a entrada da
água no barco. Nunca deve:
- Aproximar-se de um paquete ou rebocador em
marcha (as suas hélices atraem as embarcações leves e a esteira não as deixa
governar);
- Passar entre um barco e a muralha ou outro
barco (um estoque de água transformará a sua equipa em sanduíche);
- Aproximar-se, na vazante forte, de qualquer
bóia ou embarcação de pequeno calado que esteja fundeada (uma e outra em poucos
segundos deslocam-se para junto do nosso barco);
- Passar pelas embarcações à vela a não ser
por barlavento e afastado delas, redobrando de cuidados no caso de haver
correntes fortes;
- Confiar no fundo com baixa-mar, porque
existem pedras a poucos centímetros da superfície da água;
- Desprezar todos os cuidados ao entrar numa
doca, sair ou rondar um paredão, pois as surpresas são muitas;
- Empregar o leme a fundo, mas sim por partes
e enquanto os remos estiverem dentro de água;
- Fazer as mudanças de rumo, só com o leme,
antes mandando abrandar a sota ou a voga, como ajuda necessária.
Em qualquer
época do ano procurará um abrigo para a sua equipa após um treino violento,
seja qual for o estado do tempo, mandando agasalhar os remadores antes de
desembarcarem.
Para a saída da
água, recondução do barco e sua recolha no posto náutico, deve ter os
mesmos cuidados
e atenções que dispensou quando o retirou do hangar e o colocou na
água, sendo
indispensável, para uma atracação a acostagem segura, ter um auxiliar na
prancha, ou em terra que o ajude nessa operação. A equipa desembarcará também
toda ao mesmo tempo se já estiver instruída para esse fim e, contrariamente,
procurará o timoneiro exercitá-la para, com segurança, assim proceder de
futuro.
CUIDADOS A TER
ANTES DE UMA REGATA
Se o não tiver
já feito, na véspera da corrida deve o timoneiro verificar o local da prova
para tomar
conhecimento dos fundos, força da corrente, ventos, embarcações fundeadas no
percurso (ou próximo), revezas de água, etc., a fim de os evitar durante a
regata.
Após a última
saída ou treino, antes da corrida, vistoriará o barco e palamenta para se
poder reparar
ainda qualquer avaria ou deficiência que só então se note. Não esquecerá
fazer à sua
tripulação todas as recomendações que julgar úteis ou repetir os conselhos do
treinador que porventura acompanhe a equipa.
No dia da prova
procederá o próprio timoneiro a uma lubrificação das calhas, rodízios e
forquetas;
prenderá os paus de voga, com cabos (reforços sempre aconselháveis)
certificando-se
novamente do bom estado do leme e dos gualdropes e que as solas dos
remos não estão
deterioradas. Deve conhecer a Regeira onde tem de colocar-se, possuir o
galhardete do seu clube à proa da embarcação, afixando o respectivo número de
pista que lhe foi atribuído.
Até ao momento
oportuno de embarcar e sair par o local das largadas, terá reunida, e em
descanso, toda a
tripulação; irá alinhar com uma voga lenta indicando de antemão o local
referenciado onde a equipa deve dar a embalagem final e onde fica a meta de
chegada.
CONDUTA DO
TIMONEIRO NO INÍCIO, DURANTE E APÓS A REGATA
Segurará a
Regeira (no caso) com a mão esquerda e os gualdropes com a mão direita,
sentando-se bem
no barco a fim de o equilibrar.
Recomendará à
equipa: a máxima atenção, não olharem para fora, encostarem os pés ao
pau de voga e o
tacão do remo à forqueta, segurarem bem o punho do remo com as duas
mãos,
conservarem os remos com o mesmo ângulo do remo do voga, pás em cutelo e
completamente
mergulhadas na água; corrigirá o alinhamento do barco, utilizando o proa, num
barco de 4, e o proa e o 3 num barco de 8, não utilizando os restantes remadores
a não ser que a corrente ou o vento, a isso obriguem.
Ao aviso de
preparar para largar do Júri de largada, deve o barco estar alinhado e os
remadores
preparados para a largada. Não deixará olhar para fora a equipa nesta ocasião,
porque geralmente seguem-se as vozes de largada. Não estando em condições de
largar levantará o braço indicando o motivo porque não pode largar. São motivos
bastantes: o ter o adversário à frente, não ter o barco alinhado ou ter o barco
muito próximo de qualquer adversário, do que pode resultar um toque de remos ou
um choque de embarcações.
À voz de Larga!,
som de tiro de largada ou luz verde, soltará um enérgico “UM”
que seja bem ouvido por toda a tripulação e que deve corresponder ao ataque do Voga,
seguido da voz “DOIS”, também enérgico, e correspondente ao safar do
remo do Voga.
Ao sinal da
largada, a mão esquerda abandona a Regeira (se for caso disso), para que esta
não se vá embaraçar no lema, indo logo segurar o respectivo gualdrope.
Marcará bem as
dez primeiras remadas e procurará tomar o comando da prova, não se
aproximando
demasiado das outras tripulações, mas também não se afastar muito,
procurando
sempre seguir nas suas águas, não cortando as do adversário.
Empregará o leme
muito suavemente, para não tirar o seguimento do barco, fazendo-o
sempre com as
pás dos remos dentro de água e estando sempre atento a qualquer advertência do
árbitro, cumprindo-a rigorosamente.
Quando haja
qualquer irregularidade cometida por equipa adversa, chamará a atenção do
árbitro, continuando sempre a sua tripulação a remar até que ele próprio dê a
voz de Leva.
Marcará sempre
as remadas do Voga, interrompendo-se só para advertir qualquer remador
ou a equipa, de uma falta técnica, nunca esquecendo que só com uma remada
comprida e rápida é que pode bater um adversário que remo nas mesmas condições;
em 2000 metros, poupe a equipa ate aos 1500, se os outros concorrentes
consentirem, não a poupando no entanto nos 500 metros finais, a fim de
conseguir um bom tempo.
Nunca deixará de
se preocupar com o rumo. O vento e as correntes podem alterá-lo e,
nestas
condições, tem que exigir um esforço maior à sua equipa, com prejuízo do
resultado da prova ou do tempo que pretender fazer, no caso de correr em
contra-relógio. Verificará se, no seu rumo, tem qualquer obstáculo pela frente
e não esqueça que este não foge de si, mas nós é que temos de fugir dele. Faça
sempre o rumo de forma a entrar sempre dentro da meta, tendo esta preocupação,
principalmente nos últimos 500 metros.
Aproveite
qualquer guinada de um adversário que vá à frente, para ocupar as suas águas,
se forem melhores; sempre que um barco adverso se atire para cima do seu,
advirta o timoneiro em voz alta, no caso do árbitro não o ter feito já e por
forma a que todos o ouçam.
Embora atrasado,
em relação às restantes tripulações, entre sempre na meta remando com energia e
estilo.
Finalmente,
nunca tente prejudicar os seus adversários, porque o desporto do Remo põe à
prova a lealdade e a correcção dos seus praticantes.
Ao terminar uma
prova deve saudar os membros do Júri, qualquer entidade oficial que
tenha assistido
à regata e os adversários, pela ordem que chegarem, indo junto deles.
No caso de haver
algum protesto não esquecer que a embarcação terá que estar dentro de água para
a sua validade.
Mandará
agasalhar a equipa e seguir para terra se o barco for necessário para outra
prova, conservando-se no mesmo se a maioria da equipa assim o desejar. Não se
realizando uma prova de remo todos os dias, notificará a equipa da forma como
se portou, elogiando-a ou repreendendo-a, conforme as circunstância, não
deixando de lhe observar os defeitos, a fim de serem corrigidos de futuro.
Não deixará a
equipa arrefecer após o esforço violento da prova, obrigando-a tomar banho e a
vestir-se imediatamente após a lavagem do barco e sua palamenta e respectivo
arrumo da embarcação.
Carlos
Henriques
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