No
século XIX a dança começou por ser a único modo da mulher desenvolver alguma
actividade física, sendo considerada um ser frágil devia haver uma supremacia
das faculdades afectivas sobre as intelectuais
e uma sujeição da sexualidade a uma vocação maternal, por tudo isto a
mulher no desporto está aliada à luta contra a discriminação e na base da
conquista social. Nos anos 1800 a participação da mulher nas provas desportivas
era vista como um divertimento, enfatizando-se a sua beleza e postura corporal mas
não se dava importância à força, agilidade e destreza das atletas.
As
mulheres já participavam nos Jogos Ingleses a partir de 1770 mas só nos Jogos
Olímpicos de 2012 é que existiam praticantes femininos em todas as modalidades
olímpicas! Para o Barão Pierre de
Coubertin “Uma Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante,
inestética e imprópria” e continua “O
único herói Olímpico real é o homem adulto individual. Por isso, nada de
mulheres ou desportos de equipa” ou ainda “pessoalmente, não aprovo a participação de mulheres em competições
públicas, o que não significa que se devam abster de praticar um grande número
de desportos, com a condição de não ser um espectáculo. O seu papel nos jogos
olímpicos deveria ser, essencialmente, como nos antigos torneios, coroar os vencedores”
.
Em
Portugal e em particular na Associação Naval de Lisboa a participação da mulher
no Remo e na Vela é muito tardia. Nas primeiras regatas do Clube a mulher
apenas oferecia os prémios para as provas, nomeadamente bordando as Bandeiras
de Honra, a mais antiga das quais, para as Guigas, ainda existe e está em
exposição na Sede do Clube. Sua Majestade a Rainha D. Maria Pia protectora do
clube ofereceu, por diversas vezes Bandeiras de Honra, como prémio para as
Regatas da Real Associação Naval.
No norte
do País temos conhecimento de regatas de Remo feminino mais cedo do que no sul,
no Jornal do Porto de 29 de Agosto de 1863 lemos sobre uma regata “de barcos
remados por mulheres de Avintes” que se realizou na Foz. Estas mulheres eram
barqueiras (maganas) que faziam o transporte entre as duas margens do rio nesta
localidade. Em Lisboa ou Cascais a primeira manifestação de Remo feminino que
encontrámos foi no final do século XIX nas Regatas de Paço de Arcos, mais
concretamente a 27 de Setembro de 1896 com “corridas de escaleres tripulados
por senhoras”.
Contudo
a Vela, em Lisboa, teve um renascer ligeiramente mais cedo com o primeiro Iate
timonado por uma senhora a fazer parte
da regata organizada pelos nossos rivais –Real Clube Naval de Lisboa – em 1894,
a autora dessa proeza foi a britânica Eleanor Bucknall, esposa do Comodoro
daquele clube, mãe do Campeão Olímpico de Remo e vencedor da Boat Race Henry
Bucknall, que timonou a sua Canoa
“Mavis” nas Regatas de Paço de Arcos. Apesar do facto, temos contudo conhecimento
que a Rainha D. Amélia protectora da Real Associação Naval ia muitas vezes ao
leme do seu Iate Lia em passeio.
No livro
“150 anos de História” a primeira vez que temos qualquer informação sobre Remo feminino é em 1983 e sobre os femininos
na Vela apenas em 1984 somos informados que neste ano é construído um balneário
exclusivamente para senhoras!
Pela minha
ligação ao Remo e à ANL tenho conhecimento que nos anos oitenta do século
passado várias mulheres representaram o clube e venceram diversos títulos
nacionais. Nessa década a ANL sagrou-se campeã nacional de Double-Skull feminino em1985, 1986 e 1987 tendo
em 1985 repartido o título de campeão nacional de Shell de 4 com timoneiro
feminino com o Clube Ferroviário de Portugal que segundo o relatório da FPR
terminaram ex-áqueo nesse ano. Algumas das responsáveis destas proezas que me recordo, com a preciosa ajuda
do Luís Reis, foram a Ana Romão, Catarina Santos, Maria José Fonseca, Carla
Querido, Ana Viegas, Leonor Rodrigues e a Alice.
Em 1988 nos
relatórios da FPR entre muitos títulos masculinos temos a informação da vitória
no Skiff Juvenil Feminino nos campeonatos nacionais.
Pretendia
destacar a remadora Cristina Roque Lino que para mim foi a melhor atleta que
representou a ANL em Remo. Queria sublinhar entre as várias vitórias desta
atleta a medalha de Prata que venceu nas Regatas Internacionais de Macon de
1990 prova durante a qual tive o privilégio de a acompanhar como treinador. Participou
ainda no ano seguinte no Campeonato do Mundo Júnior em Banyoles, Espanha. Com
uma grande formação pessoal e desportiva não desmereceu quando, ainda muito
jovem, foi desclassificada num Campeonato Nacional depois de vencer destacada a
prova, devido a duas colegas numa embarcação terem gritado palavras de
incentivo… eram as regras da altura, muito injustas. Apesar disso não desistiu
e destacou-se representando sempre muito bem o clube e a selecção nacional.
Em 1992
na secção de Remo dos 75 atletas que representaram o Clube nos vários escalões apenas
três eram femininos ( uma sénior, uma júnior e uma infantil). Ainda como
treinador da Associação Naval de Lisboa quero realçar no I Campeonato Nacional de
Ergómetro, em 1993, a participação das
atletas presentes na prova e que se destacaram, nomeadamente a Filipa Cabaça e
a Elsa Rodrigues. Ainda nesse ano a Filipa subiu ao pódio no Campeonato
Nacional de Fundo em Crestuma. No ano de 1995 mais duas pupilas minhas, a Inês
e a Ana Margarida, representaram condignamente o clube e subiram ao pódio no
Campeonato Nacional de Velocidade Shell.
Queria
também lembrar a remadora Raquel Franca que além de atleta da ANL foi a
primeira mulher a exercer como árbitro de Remo, actuando como Juíza em várias regatas
do nosso Calendário de Provas.
Nos anos
80 e 90 do século passado na Secção de Canoagem também praticaram desporto no
Clube diversas atletas femininas que não tenho contudo resultados para
apresentar, queria no entanto destacar um projecto meritório que poucos
conhecem que foi assinado entre a ANL, a Secretaria de Estado do Ambiente e da
Juventude e a Universidade Lusíada
coordenado pelo sócio José Félix da qual a nossa sócia, na altura, Ana Nunes
fazia parte. O projecto propunha-se efectuar descidas de rio em canoas cedidas
pela ANL , nas quais os estudantes dos cursos de Direito, Gestão, e História daquela Universidade recolheram
elementos sobre a situação dos rios portugueses e do meio ambiente circundante.
O projecto foi amplamente difundido na imprensa nacional.
No
início do século XXI o meu realce vai para a sócia Susana Lusquinhos que serviu
o Clube de várias formas ora como funcionária da secretaria ora como atleta de
competição, com vários títulos nacionais conquistados e ultimamente colabora
com o clube como excelente treinadora onde inicia todos os dias diversos sócios
na prática do Remo, graças à sua brilhante formação técnica e humana tornou-se
num ícone incontornável da Associação Naval de Lisboa. No Remo de Lazer muitas
são as atletas que várias vezes por semana mantêm a sua perfeita linha remando
na nossa frota de Yolles, pois não é só em competição que se pratica este belo
desporto. Ultimamente com a ajuda do Treinador José Leitão fizemos um apanhado
dos mais recentes resultados do Remo Feminino no nosso clube e podemos afirmar
que continuamos com uma boa prestação desportiva através das prestações das
atletas Madalena Ferreira, Marta Sampaio, Catarina Vieira, Ana Santos e Maria
Felício. Na Taça de Portugal de 2014 Madalena Ferreira e Ana Santos
conquistaram o segundo lugar em double-skull e nos Campeonatos Nacionais Catarina
Vieira, Marta Monteiro, Ana Santos e Madalena Ferreira conquistaram o terceiro
lugar no Quadri-skull.
Em 2015
foram Campeãs Nacionais de Yolle 4 as atletas Ana Santos / Madalena Ferreira
/ Rita Pape / Catarina Vieira e no Campeonato Nacional de Fundo em Quadri.skull
estas atletas conseguiram o pódio. Nos
Campeonatos Nacionais a Madalena Ferreira csubiu também ao pódio na prova de
Skiff.
Neste ano de 2016 temos já conquistado o título de Campeãs
Nacionais de Yolle 4 com as atletas Ana Santos / Catarina Vieira / Marta
Sampaio / Maria Felício.
Divagando
agora pela secção de Vela gostaria de começar por destacar em 1993 a dupla
Teresa e Rita Borges Coutinho que foram Campeãs Nacionais de “420” e representaram
Portugal no Mundial da Classe em Itália. Durante a época de 1995 a velejadora Margarida
Aguiar sagrou-se Campeã Nacional da Classe “Europe”. Em 1997 e 1998 Inês Nolasco e Mafalda Barros
sagraram-se bicampeãs nacionais da classe 420 Júnior. No ano seguinte Rita Gonçalves
e Rita Guerra venceram o mesmo Campeonato Júnior de 420.
No ano
do Milénio Marta Lobato venceu o Campeonato Nacional da Classe “Europe e em
2004 a ANL sagrou-se Campeã Nacional de Match Racing Feminino com a equipa composta
por Margarida Aguiar, Sara Telhada, Mafalda Barros, Inês Gamito e Diana Neves.
Em 2005
a dupla campeã nacional júnior da classe “420” Rita Rocha e Mariana Lobato
representaram Portugal no Mundial da Juventude ISAF que se disputou na Coreia.
Em 2007
a equipa de Match Racing liderada pela atleta Rita Gonçalves e composta por Ana
Champalimaud, Mariana Lobato, Ingrid Fortunato e Catarina Costa sagrou-se
Campeã Nacional. Ainda a equipa feminina de Match Racing agora patrocinada pela
Schroders e com uma equipa base composta por Leme
Rita Gonçalves, Trimmer Mariana Lobato, Trimmer Ana Champalimaud, Trimmer
Ingrid Fortunato, Trimmer Catarina Costa e Proa Diana Neves, participou no
Campeonato Europeu de Match Racing Feminino realizado em St. Quay, França, nos
dias 9 a 13 de Setembro de 2008. A participação portuguesa nesta prova coube
então à equipa liderada por Rita Gonçalves, velejadora da Associação Naval de
Lisboa, e foi constituída por Marta Lobato, Ingrid Fortunato e Mariana Lobato.
Esta equipa que teve uma excelente performance em 2007, campeã nacional, em
2008 sagrando-se bi-campeã nacional feminina e alcançando ainda o 3º lugar do ranking nacional absoluto. Neste
mesmo ano participou ainda no ISAF Nations Cup. Em 2009 foi o tricampeonato
nacional, as velejadoras que participaram nesse ano foram a Rita Gonçalves ao Leme,
Ingrid Fortunato no Trimmer genoa, Catarina
Costa no Trimmer spi e Diana Neves a proa, estiveram também presentes no
Campeonato Europeu e na Grand Final da ISAF Nations Cup. Em 2010 para além do
Tetra-campeonato de Portugal de Match Racing participaram no Mundial com uma
equipa formada pelas velejadoras Rita Goncalves ao Leme, Mariana Lobato em Trimmer
Vela Grande/Spi, Ingrid Fortunato no Trimmer estai e Diana Neves a proa, participaram
além disso no Campeonato Ibero-americano onde alcançaram um honroso terceiro
lugar conquistaram ainda o quinto lugar no Europeu da Classe.
De
salientar que a base desta equipa esteve presente nos Jogos Olímpicos de
Londres porém nesta altura já não representavam a Associação Naval de Lisboa!!!
Para
honrar o desporto feminino e Sua Majestade a Associação Naval de Lisboa
instituiu em 2004 o Troféu Rainha D. Amélia, perpétuo com uma prova aberta a barcos de Cruzeiro que durante a regata
sejam governados por Timoneiras. A prova tornou-se já um destaque no Calendário
da Vela e S.A.R. a Senhora D. Isabel de Bragança sensibilizou-se com o projecto
e na segunda edição da prova distribuiu os prémios às vencedoras.
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