O ESFORÇO DO REMADOR
Ramalho Ortigão descreveu o Remo com esta frase soberba:
“ De calças arregaçadas e pernas
nuas, com o peito ao vento, a elasticidade de um bom remo espadeirando a água
comunica-se ao nosso arcaboiço e parece que, nesse exercício triunfal, todos os
ossos cantam, como canta o estropo do couro cru, amarrado ao tolete, quando se
pica a voga.
Dizem os do Algarve que, para
remar, tudo puxa desde as unhas dos pés, até às pontas dos cabelos.
Quando se rema estirado,
pranchando o corpo todo no mergulho do remo, o esforço empregado distribui-se
igualmente por todos os músculos das pernas, dos braços, do tórax e dos rins,
dando a máxima plenitude da força, a mais intensa sensação de poder e de
vitória.
Remar, é dizer ao Oceano –
chega-te para trás que vai aqui um homem! – e ver o Oceano obedecer.”
Atendendo a que o Remo desenvolve
bastante toda a estrutura muscular e articular do corpo humano, não é um
desporto pesado nem desaconselhável. Pode ser mesmo recomendável para pessoas
com problemas de peso, asma e diabéticos. A sua prática pode ser efectuada por
pessoas de todas as idades e sexo.
A prática do desporto do Remo tem uma vertente recreativa,
para manutenção do corpo e da mente e competitiva, mais exigente, com
Campeonatos Nacionais, Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos.
Aos atletas de competição existe a obrigatoriedade de
pelo menos um treino diário, tendo como objectivo a melhoria da performance da
força, velocidade, resistência e flexibilidade. Sendo um desporto
essencialmente colectivo, a sua prática fundamenta-se em sucessivos e cadenciados
movimentos do corpo e dos remos. A água é transformada no ponto de apoio do
remo num movimento coordenado e ritmado dos remadores com o objectivo de
projectar a embarcação o mais rápido possível.
Dado que a melhor técnica é “aquela que faz andar o
barco mais depressa” há sempre nos puristas a ideal. A maneira de pegar no
remo, como sentar no carrinho, o ângulo do corpo, a colocação dos pés são
motivo de discussão entre os treinadores e atletas.
O atleta está sentado num assento com rodas – carrinho
–, que se movimenta numas calhas (cerca de 72 cm .) colocadas no poço da
embarcação. A remada divide-se em duas fases distintas: a propulsiva – quando o
remo está dentro de água – e a de descanso quando o atleta vem à frente
preparar nova remada.
Os pés estão presos no finca pés ou pau de voga
iniciando-se a remada com o deixar cair do remo na água – o ataque e a tomada
de água – através do acto de levantar os punhos. Seguidamente, entram em acção
as pernas empurrando com toda a força o pau de voga até estarem completamente
esticadas. Nesse momento principia o movimento do tronco que está inclinado
para a frente, estável, abrindo por completo até formar um ângulo confortável
para, então, os braços puxarem o remo para o peito o mais rapidamente possível.
Resumidamente, numa sequência sem paragem, de Pernas, Tronco e Braços.
Sequentemente vem a fase de descanso, mais lenta que a
anterior em que o atleta inspira profundamente e ganha alento para um novo
esforço de remada. O atleta empurra o remo para baixo tentando conseguir uma
saída limpa do remo da água – o safar – devendo para isso a velocidade do
movimento descendente do remo ser igual à velocidade do barco (assim como no
ataque a velocidade ascendente do remo), começando por esticar os braços
completamente, colocando seguidamente o tronco na posição de inicio de remada e
começando a encolher as pernas para preparar a nova remada. Verifica-se assim
uma sequência de Braços, Tronco e Pernas.
Para dificultar o remo tem que rodar na forqueta,
sendo colocada a pá paralela à água na vinda à frente e, depois do punho passar
os joelhos, na perpendicular à água para a próxima fase propulsiva.
Os músculos nas Fases da Remada
Ataque:
Remada:
Final:
Ida à frente:
A distancia de corrida padrão
numa prova de Remo é de 2000
metros e tem uma duração média de cerca de sete minutos.
É no início de prova – A Largada – que os remadores são capazes de aplicar a
sua máxima força – 1 000 N *–. À medida que o barco acelera a força aplicada
cai para um quarto. É também durante a Largada que a cadência é mais elevada
chegando a ser medida uma voga – remadas por minuto – de 48 nos primeiros 45
segundos de prova diminuindo depois durante a prova para uma voga média de 33 -
35.
A enorme potência aplicada induz,
no remador, uma quebra instantânea do alimento muscular ATP (Adenosina
trifosfato) e CP (creatina fosfato). Como a demanda de energia excede em muito
aquilo que pode ser fornecido através do uso de oxigénio (metabolismo aeróbio)
a repetição da contracção muscular só pode continuar como resultado da glucose
(metabolismo anaeróbico) o que permite que a ATP seja gerada na ausência de
oxigénio. O problema é que esta reacção química vai provocar uma acumulação de
lactato (ácido láctico) nos músculos, causando fadiga extrema ao atleta. Se a
duração da corrida fosse apenas de cerca de um minuto, a quantidade de lactato
acumulado não iria causar dificuldade, no entanto, em 2.000 metros os
remadores têm que conseguir tolerar uma grande quantidade do ácido e continuar
a remar durante toda a corrida. As equipas melhor treinadas podem tirar
vantagem de estar à frente desde o início, doseando o esforço durante o resto
da prova, para isso contribui também a posição dos atletas no barco que ao
remarem para trás controlam os seus adversários na tentativa de os alcançar.
Após cerca de um minuto de prova
até quase ao fim, a principal fonte de energia dos músculos é fornecida pelo
metabolismo aeróbio, o glicogénio muscular é o combustível predominante
juntamente com alguma gordura. Como está disponível oxigénio suficiente há uma
produção mínima de ácido láctico.
Na parte final da regata aumente
bastante o ritmo de prova com as tripulações a tentarem tudo por tudo para
vencer a corrida, para a isso a máquina humana sintetiza toda a energia à sua
disposição e soma as duas energias – aeróbia e anaeróbia – para conseguir
disponibilizar aos músculos todo o alimento possível, volta então a ser
produzido acido láctico e, se o empenho for levado ao limite, a ultima remada
será o ultimo esforço que o atleta consegue realizar.
O plano de treino tradicional no
remo é um plano anual, dividido em três fases: preparatória, transição e
específica. A fase de transição tem a duração de quatro semanas, a fase
específica de 21 semanas e o restante é utilizado como fase de preparação. A
fase específica é normalmente também dividida em duas, a fase de pré-competição
e a competitiva com duração de 9 e 12 semanas, respectivamente.
“When
one rows it is not the rowing which moves the ship: rowing is only a magical
ceremony by means of which one compels a demon to move the ship.” -Nietzsche
*Newton: Corresponde à força exercida
sobre um corpo de massa igual a 1 kg
que lhe induz uma aceleração na mesma direcção e sentido da força de 1 m/s²
Carlos Henriques
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