domingo, 18 de outubro de 2015

A Associação Naval de Lisboa nos Jogos Olímpicos

O movimento olímpico em Portugal, terá principiado com a nomeação,
em 1906, de D. António de Lencastre, como encarregado de negócios do
Comité Olímpico Internacional no nosso país, por sugestão de El Rei D.
Carlos, à época Comodoro da Real Associação Naval.
Todavia, a nossa primeira participação nos Jogos Olímpicos só ocorreu
em 1912, ano em que pela primeira vez surge a denominação de Comité
Olímpico Português, nascido a partir da Sociedade Promotora da Educação
Física Nacional (SPEFN), fundada três anos antes. Era esta agremiação que
realizava os Jogos Olímpicos Nacionais, um conjunto de provas de vários
desportos que coroava o Campeão Olímpico Nacional.
O Dr. Mauperrin Santos, sócio da ANL e director da Escola Académica,
era o grande mentor e organizador destes eventos.
A primeira sede do COP foi nas instalações desta Sociedade, sita no Largo
do Picadeiro, sendo a primeira Direcção constituída por:
Presidente de Honra: Conde de Penha Garcia
Presidente: Dr. Jaime Mauperrin Santos
Vice-presidentes: D. António de Lencastre, Charles Bleck e Manuel
Egreja.
Secretário-geral: Dr. José Pontes
Secretários: Aníbal Pinheiro, Armando Machado e Duarte Rodrigues
Membros: Álvaro de Lacerda, Dr. António Osório, Daniel Queiroz dos
Santos, Fernando Correia, Guilherme Pinto Basto, Manuel da Cunha e
Menezes, Pedro Del Negro, Dr. Pinto de Miranda e o Dr. Sá e Oliveira.
Desta primeira Direcção faziam parte destacados sócios da Associação
Naval de Lisboa: distinguimos aqui o Presidente de Honra, o Presidente da
Direcção, o Secretario Geral, entre outros. A participação de sócios da
ANL nos corpos gerentes do C O P, tem sido contínua ao longo dos anos,
contando-se entre os membros das Direcções, Francisco Duarte, Ricardo
Pereira Dias e, recentemente, o Eng. Lima Belo, ex presidente e actual
representante do COI em Portugal.
A dimensão simbólica nacional da primeira participação nos Jogos
Olímpicos ficou registada para a posteridade, por J. Benoliel, nesta
fotografia tirada na Praça do Comércio, à época palco de celebração dos
acontecimentos mais importantes do País.
A primeira participação olímpica ficou marcada pela morte trágica de
Francisco Lázaro, facto que motivou uma grande onda de solidariedade
culminada com a construção de um Mausoléu para o Campeão Português.
Dos atletas integrados na primeira comitiva olímpica, destacamos Joaquim
Vital, Remador e Lutador da ANL.
Enquanto remador, foi vencedor da Taça Lisboa e da Taça Mondego, duas
das mais importantes provas de Remo existentes à época.
Enquanto Jornalista, fez a reportagem do evento para os Sports Ilustrados;
Desportista de eleição, praticava ainda esgrima, sendo por esta altura
também director da secção de Luta da Associação Naval de Lisboa. 
O eclodir da I Grande Guerra motivou a interrupção dos Jogos durante o
conflito.
Sabemos que o Remo se preparava para uma boa participação em 1916, e
que nos Jogos Interaliados (competições organizadas pelas tropas da
Aliança para moralizar e entreter os soldados), efectuados em Paris, um
misto de remadores da ANL e do CNL participaram nas provas de Shell de
8 e de Shell de 4.
Faziam parte destas equipas os remadores: Rodrigo Bessone Basto, José
Serra Pereira, Humberto Reis, Correia Leal, António Ferreira, Ricardo
Pereira Dias, Augusto Talone, Jorge Ferro, Carlos Sobral, João Sassetti,
José Branco, João Silva e Gabriel Ribeiro.
Em 1920 foram retomados os Jogos e a famosa Bandeira com Cinco
Anéis Coloridos, símbolo da Paz entre os Povos, foi pela primeira vez
hasteada nesta competição, ao mesmo tempo que se iniciava a leitura do
Juramento Olímpico por um atleta.
João Sassetti, exímio Remador da ANL, vencedor da Taça Lisboa integrou
a comitiva Lusa presente em Antuérpia, sendo contudo em Esgrima que
representou Portugal nesse ano. Esteve também presente nessa modalidade
em 1928, tendo vencido a medalha de Bronze. Oito anos mais tarde, foi o
chefe da delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Berlim.
A primeira representação olímpica portuguesa da Vela em 1924, devese
igualmente a um associado da ANL, Frederico Burnay. Notável atleta,
foi membro do Comité Olímpico Português e Presidente da Federação
Portuguesa de Remo, tendo chefiado as presenças de Portugal nesta
modalidade, em 1948 e 1952.
Nos Jogos de Amesterdão (1928) além da presença espectacular que nos
honrou com o Bronze para a nossa equipa de Espada (que incluía João
Sassetti), integraram a comitiva nacional os associados velejadores
Frederico Burnay, Carlos Eduardo Bleck (herói da aviação e um dos
fundadores da TAP), Ernesto de Mendonça António Guedes de Herédia e
João Penha Lopes, um exímio remador que integrava também a equipa de
Sassetti vencedora da Taça Lisboa em Remo.
Na Alemanha de Hitler, além do chefe da Delegação, João Sassetti,
marcaram presença na modalidade de Vela os sócios da Associação Naval
Ernesto Mendonça, Joaquim Mascarenhas Fiúza e António Guedes de
Herédia.
Após a II Guerra Mundial realizaram-se, no ano de 1948, em Londres, os
Jogos que proporcionaram aos nossos consócios Duarte e Fernando Bello
a conquista da medalha de Prata em Vela, na classe Swallow, mesmo
correndo numa embarcação emprestada. O protesto de outra equipa
concorrente retirou-lhes contudo a vitória. Mas nestes Jogos, os associados
da ANL estiveram de parabéns pois, além destes campeões, estiveram
também presentes nas regatas de Vela João Miguel Tito, Joaquim
Mascarenhas Fiúza, Júlio Leite Gourinho, João da Silva Capucho, António
Guedes de Heredia e Henrique Sallaty. Uma embaixada extraordinária!
Seguiram-se os Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, durante os quais
o nosso homenageado de hoje, velejando num Star, conquistou mais uma
medalha de Bronze para a Vela portuguesa, o que muito honrou a
Velhinha.
Fazendo equipa no Espadarte, Rebello de Andrade e Joaquim Fiúza foram
o expoente máximo de mais uma grande embaixada do nosso clube, a
saber: Mário Quina, os irmãos Bello, Júlio Gourinho, João Tito, Alberto
Graça e Carlos Lourenço.
Decorreram em Melbourne os Jogos Olímpicos de 1956, à excepção das
competições equestres que tomaram lugar em Estocolmo, em virtude das
leis de quarentena que impediam o ingresso de cavalos na Austrália.
No país dos cangurus, a representação da Vela portuguesa voltou a ter
membros da ANL. Desta feita os seleccionados foram: Duarte Bello, José
Bustorff Silva, o Conde de Caria Bernardo Mendes de Almeida, Sérgio
Marques e Carlos Lourenço, tendo os dois primeiros alcançado um quarto
lugar em Star, no Faneca, falhando o pódio por pouco.
Na edição seguinte, os nossos associados os irmãos Quina, José e Mário
foram as vedetas da comitiva portuguesa, ao conquistarem a medalha de
prata no Má Lindo. Faziam também parte da Armada da Associação Naval,
os Velejadores Carlos Ribeiro Ferreira, Joaquim Pinto Basto, Gonçallo
Pinheiro de Mello, Fernando Bello, Júlio Gourinho e Duarte Bello, sendo
de acrescentar a presença, na modalidade de Luta, de Luís Vieira Caldas.
Foram estes os Heróis de Roma que participaram nas Olimpíadas de 1960.
Foi no País do Sol Nascente, em Tóquio, que se realizaram os Jogos de
1964. Com uma presença discreta mas não menos importante, a delegação
portuguesa era composta, na Vela, por Eduardo Queiroz, Joaquim Pinto
Basto, Carlos Ribeiro Ferreira e os Irmãos Bello, todos eles associados da
Associação Naval de Lisboa.
A 2134 metros acima do nível médio das águas do mar, decorreram os
Jogos Olímpicos de 1968 no México. A terra dos Aztecas não foi de boa
memória para a participação portuguesa, cujos atletas não se conseguiram
adaptar à altitude. Nestas olimpíadas, estiveram presentes os irmãos Quina,
Fernando Belo e António Sarafana, todos sócios da Associação.
Nas mais negras Olimpíadas de sempre, Munique 72, a Política, o
Terrorismo e a falta de Fair-Play, conseguiram superar os valores “Citius,
Altius, Fortius” que o Barão tinha idealizado para os Jogos.
Na Vela, contaram com a participação dos associados da ANL, José
Manuel Quina, António Mardel Correia e Henrique Anjos.
No Remo esteve presente José Lopes Marques em Skiff. Uma presença
discreta é certo, mas a chegada tardia das embarcações de remo, só
disponíveis para treino na véspera das competições, em muito contribuiu
para a fraca prestação desportiva. Outro factor de peso terá sido, segundo
testemunho oral a nós facultado por este associado, o stress provocado pela
ida diária dos atletas à pista, na esperança de as encontrar.
Nas edições seguintes a participação da ANL não foi tão profícua.
Destacamos no entanto, na modalidade de Vela, a presença de Joaquim
Ramada em Montreal, António Mardel Correia e Henriques Anjos, em
LA e Patrick Monteiro de Barros, em Seul.
Apesar de nenhum atleta da Associação Naval de Lisboa ter estado
presente nos Jogos de Atenas, estes serviram de rampa de lançamento para
o ingresso de mais uma modalidade, desta feita nos Jogos Paralímpicos.
Deve-se essa proeza ao excelente trabalho de José Nunes na Comissão
Organizadora da modalidade de Remo com o objectivo, alcançado, de
incluir o Remo no programa dos Jogos Paralímpicos. Uma conquista do
nosso sócio, da FISA e da FPR.
Mais uma vez, através do associado José Nunes, a ANL está presente na
escrita de mais uma página brilhante do desporto Português e Mundial.
Queremos, por último, salientar a constituição do Comité Paralímpico de
Portugal, no ano transacto, que na sua primeira Comissão Executiva conta
também com a presença de um sócio da Associação Naval de Lisboa.
Apesar dos seus 154 anos a ANL mantém um destacado envolvimento no
panorama desportivo nacional. Os seus membros (nomeadamente José
Nunes, Francisco Lobato, Pedro Mendonça, José Caldeira), dignificam as
suas modalidades e continuam a elevar o nome de Portugal bem alto no
Mundo, vencendo desafios e dirigindo o Remo e a Vela para a Náutica
voltar a conquistar a excelência e o lugar de destaque que já foi seu no
desporto Nacional.
Lisboa, 23 de Junho 2009-06-23
Conferência proferida por ocasião das Comemorações ANL – 100 Anos De
Olimpismo










3 comentários:

João Menéres disse...

Na 6ª foto, julgo reconhecer na 2ª fila o Duarte Bello e o Joaquim Fiúza...
Na penúltima foto, o Dragão e na última os Finn.

Um abraço.

Carlos Henriques disse...

E Tem toda a razão caro amigo,

Abraço,

Carlos Henriques

João Menéres disse...

Como vê, já sou doutro tempo...
Mas jamais esquecerei esses ( e outros ! ) ilustres velejadores !

Obrigado por continuar com todo o afinco com este estupendo blogue.

Um abraço.