180 ANOS DE REMO EM PORTUGAL
A prática do Remo em Portugal, enquanto desporto organizado, terá começado em 1828 com a fundação do Arrow Club por Abel Power Dagge, os irmãos Pinto Basto e alguns elementos da colónia britânica residente na metrópole, segundo documentos inéditos que nos foram recentemente facultados pela família Dagge.
Do referido acervo documental constavam as actas de fundação de várias associações náuticas, a sua correspondência e deliberações das Assembleias Gerais, assim como memórias de Abel Power Dagge, membro fundador da Real Associação Naval e do Clube Naval de Lisboa, quiçá o primeiro desportista náutico a existir em Portugal.
Segundo José Pontes, no seu livro “Quasi um século de desporto”, a primeira regata de desportistas amadores oficialmente realizada em Portugal foi de Remo, corria o ano de 1849, e foi promovida por Abel Power Dagge.
São célebres, pelo menos a partir de 1852, por ocasião dos festejos anuais de Paço de Arcos, as Regatas em barcos à vela e a remos, promovidas pelo Conde das Alcáçovas, por um grupo de aristocratas, alguns deles ligados à Casa Real, e por elementos da colónia inglesa. A regata de 1853, foi presidida pelo infante D. Luiz que se fez conduzir a bordo do vapor da Marinha de Guerra Portuguesa Conde de Tojal. Aproveitando a estadia do barco de guerra inglês Odin, fundeado na Baia de Paço Arcos, realizou-se uma corrida de remos entre marinheiros portugueses e ingleses. Do programa de 1854, constava a participação de duas guigas de 4 remos, tripuladas por “curiosos”.
Na sequência destes eventos, foi fundada em 1855 a Real Associação Naval, a mais antiga agremiação desportiva da Península Ibérica e uma das mais antigas do mundo.
O interesse despertado pelo «divertimento das regatas», associado ao “gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a remos no Tejo, deram lugar em 1861, à formação de dois grupos de remadores. O primeiro grupo era composto na sua maioria por ingleses mesclado de alguns portugueses e, o segundo, era constituído exclusivamente por indivíduos da colónia alemã. Estes dois grupos de amadores remavam também em guigas de 8 remos, construídas propositadamente para esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que se denominavam respectivamente Lusitânia e Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha 12,80 m de comprimento e 1,83 m de largura, tendo custado 201,600 reis. Segundo os nossos registos, esta guiga deverá ter sido a primeira embarcação desportiva de remo construída em Portugal e por um mestre português. Destes acalorados desafios resulta então a fundação, em Lisboa, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano, dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal.
Numa época em que o remo desportivo era a modalidade de eleição praticada pela elite inglesa residente na região norte é fundado, em 20 de Junho de 1866 o Oporto Boat Club, em 1868 o Clube Naval Portuense e em 1876, o Club Fluvial Portuense, fundado num antigo café da Ribeira, o Café de Santo Amaro, resultante do entusiasmo de um grupo de portuenses pelos desportos náuticos. Este último, ainda em actividade trata-se da colectividade desportiva mais antiga do Norte de Portugal. O Oporto Boat Club era apenas constituído por ingleses, possuindo tripulações de muita qualidade e na altura consideradas invencíveis. Segundo as nossas consultas a sua primeira derrota foi em 1906, sobre a qual tratamos mais à frente.
Na segunda metade do Séc. XIX, a Figueira da Foz era o local de ferias durante os meses de Agosto a Outubro das elites portuguesas, aparecendo a veranear também alguns espanhóis. Neste contexto formam-se na Figueira a Associação Naval Figueirense, com estatutos de 1866 e o Clube Moderno cujos estatutos datam de 1881. A 14 de Outubro de 1880 funda-se em Setúbal a Associação Fluvial Setubalense, mostrando-nos que o gosto pelos desportos náuticos em Setúbal também é muito antigo
Em 1884, ainda por iniciativa de Abel Power Dagge, foi criado o primeiro Campeonato que se realizou em Portugal. As regatas foram efectuadas no Tejo durante três anos seguidos, em skiff, como competidores estiveram os ingleses Hickei e Mitchel e o futuro Barão de Almeirim, Manuel Braamcamp, que venceu os ingleses e conquistou o Titulo de Campeão do Tejo, ganhando uma medalha de ouro que usava com orgulho na corrente do seu relógio. É durante este ano, 1884, que as regatas passam a ser sempre em linha recta na distância de uma milha aproximadamente. Anteriormente eram normalmente efectuadas entre duas bóias com ida e volta.
Em 27 de Janeiro de 1892, são aprovados os estatutos do Club Naval de Lisboa, já em actividade desde Novembro de 1891. Com o aparecimento do Clube Naval de Lisboa os desportos náuticos e o Remo em particular, ganham um notável incremento porque o recém-criado Clube imprime um grande dinamismo na prática desportiva.
No dia 1 de Maio de 1893 é fundada na Figueira da Foz, a Associação Naval 1º de Maio, a primeira colectividade de cariz eminentemente popular instituída em Portugal, nascendo segundo Maria Alice Guimarães, como continuidade da Associação Naval Figueirense. Nesse mesmo ano, a Real Associação Naval e o Real Gimnásium Club Português criam as suas secções de Remo. Na cidade de Aveiro, em 1894, o Ginásio Clube Aveirense organiza uma secção de Remo, que mais tarde viria a chamar-se Clube Mário Duarte. Logo a seguir a 1 de Janeiro de 1895 é fundado o Ginásio Clube Figueirense, como Clube Gimnastico Velocipedico Figueirense, porventura a continuação do Clube Ginástico, fundado anteriormente nesta cidade em 1889.
Em 1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval na qual competiram nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu seis mil visitantes.
Para comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia, o Real Club Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de 1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas que se celebrizaram pelo seu esplendor. Podemos ler no Livro de actas da Comissão de Regatas do Real Club Naval de Lisboa que nesta regata existiram provas disputadas por senhoras da sociedade constituindo, provavelmente, uma das primeiras manifestações de desporto feminino em Portugal.
Aproveitando o apoio e beneplácito do seu Comodoro, Sua Majestade El Rei D. Carlos, o Clube Naval de Lisboa cresceu e difundiu os Desportos Náuticos pelo País abrindo secções e Postos Náuticos em Azambuja, Cascais, Trafaria, Luanda, Lourenço Marques, Portimão, Lagos, Pedrouços e Funchal. Estas delegações evoluíram mais tarde para os actuais clubes existentes nestas localidades.
No alvorecer do século XX despertava grande interesse as regatas em guigas de quatro e de seis remos. No entanto, a falta de uniformidade nas características das embarcações, a que se juntava uma deficiente regulamentação, suscitavam frequentes conflitos que, em alguns casos, conduziam à quebra de relações entre as principais agremiações náuticas. Em 1898, no Centenário da Índia devido a um empate numa regata de Remo os atletas da Real Associação Naval e do Real Clube Naval envolveram-se numa zaragata que destruiu a Cervejaria Jansen, no Cais do Sodré, com prejuízos no valor de 400.000 réis (O Infante D. Afonso quis inteirar-se pessoalmente do ocorrido) e em 1906 houve mesmo um duelo à espada, em Cascais, entre Alberto Totta do CNL e Carlos Sá Pereira da ANL, devido a uma regata da Taça Lisboa.
A necessidade de regulamentação das regatas de Remo mereceu alguma reflexão no “Congresso Marítimo Nacional”, promovido pela Liga Naval Portuguesa, em 1902, sem que contudo daí resultasse alguma alteração tendo, no entanto, sido aprovada a tese “Impulsionamento do rowing nacional. Sua utilização possível na educação física do povo português”, da autoria de Joaquim Leotte dirigente do Clube Naval de Lisboa e o grande responsável pela instituição da Taça Lisboa a prova mais importante do Remo Português.
É neste contexto que em 1904, a pedido de Joaquim Leotte, a Associação Naval de Lisboa, o Clube Naval de Lisboa, o Clube de Aspirantes de Marinha e o extinto Clube Naval Madeirense instituíram a Taça Lisboa em Remo como Campeonato de Portugal, Taça ainda hoje em competição, constituindo a prova desportiva mais antiga do nosso país. Assim nasceu a Taça Lisboa e a Convenção que se lhe seguiu assinada pelos mesmos clubes, a 20 de Abril de 1904. A primeira regata da taça foi realizada a 29 de Maio, ao longo da muralha da Junqueira, entre as docas de Santo Amaro e do Bom Sucesso. A Convenção, o primeiro regulamento de regatas de Remo, estabelece as bases para a regulamentação “das corridas de embarcações de Remo e tinha como fim último promover “o desenvolvimento do rowing portuguez”, a ela se devendo o rápido desenvolvimento que o Remo atingiu nos anos que se lhe seguiram.
Nos Jogos Olímpicos de 1908, Henry Bucknall, o voga da tripulação de Shell 8 de Inglaterra, que venceu a medalha de ouro, foi remador do Clube Naval de Lisboa. Filho do seu Comodoro Bucknall, tendo associado a si e a seu pai uma história de desforra entre o CNL e uns ingleses do Porto, como já tínhamos descrito anteriormente. Em 1906 depois de várias derrotas e humilhações dos remadores portugueses contra as tripulações invencíveis dos ingleses do Porto, o Comodoro Bucknall, agarrou no seu filho e meia dúzia de atletas do CNL e levou-os para estágio para uma propriedade que possuía em Sarilhos. Dos treinos bastante puxados apenas resistiram o seu filho e mais três jovens que desafiaram e venceram os ingleses numa regata em Cascais, era a primeira vez que alguém lhes ganhava. Deverá ter sido, também, o primeiro estágio de “competição” efectuado no nosso Pais. Logo a seguir uma tripulação da Real Associação Naval consegue um feito idêntico e acaba-se o mito dos ingleses do Porto.
Em 1908 o Dr. António Rainha oferece ao Ginásio Figueirense a Taça Mondego para ser disputada em inriggers de 4 remos na distância de uma milha, por todas as tripulações nacionais existentes, sempre no rio Mondego. Em 1911 Francisco Bento Pinto oferece à Associação Naval 1º de Maio a Taça Alzira, disputada no mesmo tipo de embarcação mas como Campeonato Regional. Segundo o grande dirigente figueirense Severo Biscaia: “A disputa da Taça Alzira constituía um grande alvoroço e assunto de todas as conversas, atiravam-se pedras de cima da ponte à passagem das embarcações, e ouviam-se muitos insultos mútuos pois os do Ginásio eram finitos que só comiam bifes e bebiam agua das pedras e os da Naval uma data de carroceiros que se alimentavam a vinho tinto e sardinha.”
A proclamação da República teve repercussões nos Desportos Náuticos, sobretudo na Vela com o desaparecimento dos Yachts Reais. Consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real sofreram um duro revés, foi necessário mudar de nome e de pavilhão. Porém, lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo tempo diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de sócios, respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época. Paralelamente, promovem a construção em Portugal dos primeiros barcos a remos de corrida, nos estaleiros privativos da Associação e do Clube Naval.
Decorria o ano de 1910 quando se funda em Viana do Castelo o Viana Taurino Club o primeiro desta cidade e que iria começar e dinamizar o desporto do Remo no rio Lima, contudo já em 1906 no Jornal Aurora do Lima podemos ler que: “nas festas da Senhora da Agonia realizou-se uma regata de três escaleres a 4 remos”.
Ainda neste ano Armando Soares Franco, Presidente da ANL oferece uma Taça com o seu nome para ser disputada pelas Escolas Superiores de Lisboa e Mauperrin Santos, sócio do Clube Naval, Director da Escola Académica e Presidente da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (futuro COP) oferece também uma Taça com o seu nome que seria disputada pelas Escolas Secundarias e Liceus da Capital, começando então uma nova era no desporto escolar. As regatas eram organizadas pelo CNL e pela ANL com o patrocínio da CML. Alguns anos mais tarde a Federação Portuguesa do Remo continuaria a utilizar essas Taças com o mesmo propósito, nascendo as regatas escolares que se iriam disputar até aos anos sessenta em Lisboa, no Porto e na Figueira.
Nas regatas efectuadas nesse ano, a 3 de Outubro pelo Viana Taurino, em Viana do Castelo, para competição da Taça com o nome do clube, origina-se uma grande celeuma porque um dos competidores, o Clube Fluvial Portuense, coloca slides no escaler Porto que vence a regata mas depois é desclassificado, pelos árbitros. Este episódio fez correr muita tinta nos jornais da época. Na regata participaram clubes de Viana, Esposende, Vila do Conde e Porto. Ainda na mesma regata comentou-se o equipamento dos atletas, se devia ser calça ou calções e lê-se também no Jornal Sport de Lisboa “ (…) A garrafa de excitante despejada à partida pela tripulação do Viana Taurino Clube, a que se refere o Sr. Silveira, não passa de uma simples e inofensiva garrafa de água do Vidago (…).
O ano de 1919 é marcado pela realização, na Figueira da Foz, do Campeonato Internacional de Remo para comemorar a vitória das forças aliadas da Primeira Grande Guerra, onde seria disputada a Taça da Vitória que a par da Taça Lisboa seria a prova mais importante do remo português. Podiam concorrer a este campeonato todas as colectividades desportivas nacionais e estrangeiras legalmente constituídas.
A Taça da Vitória foi instituída pela Associação Naval 1º de Maio e adquirida por subscrição entre as Nações Aliadas da Grande Guerra e destinava-se a ser disputada em outriggers de oito remos. As Nações que subscreveram a Taça foram Portugal, Brasil, América do Norte, Inglaterra, França, Itália, Bélgica, Servia, China, Japão, Grécia, Sião, Roménia, Honduras, Libéria, Panamá, Nicarágua e Peru. Também em 1919 formou-se a primeira Selecção Nacional de remo para os Jogos Interaliados em Paris. Dado que não se realizaram os Jogos Olímpicos, as Nações Aliadas organizaram estas provas, em vários desportos, para moralizar os soldados e aproximar os países amigos. Um misto da ANL e do CNL, representou Portugal e remou em Shell 8 e Shell 4.
No dia 19 de Fevereiro de 1920 na Sala da Associação Naval de Lisboa reúne-se a Comissão Organizadora e Iniciadora da Federação Nacional de Remo, com a participação dos clubes de Lisboa e da Figueira (do Porto não houve resposta à solicitação mesmo depois de serem enviados dois ofícios), marcando então uma reunião de delegados oficiais para o dia 10 de Março, sendo contudo no Congresso Náutico Nacional realizado no Porto, em Abril de 1920, por iniciativa do Clube Fluvial Portuense com o apoio do Sport Clube do Porto, que a Associação Naval de Lisboa e o Clube Naval de Lisboa apresentaram as bases, da Federação Nacional de Remo passando, a partir dessa data, a existir uma entidade reguladora do desporto do Remo em Portugal. Nesse mesmo congresso são também instituídos e regulamentados os Campeonatos Nacionais de Remo
Aos 29 dias do mês de Agosto de 1921 reuniram-se na Sala da Associação Naval, os clubes: Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Associação Naval 1º Maio, Ginásio Clube Figueirense, Clube Naval Setubalense e Sport Algés e Dafundo tendo procedido à eleição da primeira Comissão Dirigente da Federação Portuguesa do Remo que ficou assim constituída:
Presidente – Dr. Carneiro Prego
Secretario – Nuno Vasconcelos
Tesoureiro – José Reis
Vogais – Augusto Salgado e Carlos Botelho Moniz
Em 1922 a Federação Portuguesa do Remo inscreve-se na FISA, o que lhe permite fazer-se representar nos campeonatos da Europa em Como, Itália, em 1923, com uma tripulação de Shell de dois com timoneiro do Sport Clube do Porto e, em 1926, em Lucerna, Suíça, com uma tripulação do Clube Naval de Lisboa que participa nas provas de quatro com e sem timoneiro.
Os Campeonatos Nacionais de Remo de 1931, organizados pelo Clube Fluvial Portuense e pelo Sport Clube do Porto, realizados no Porto, entre o Bicalho e a Alfândega, destacaram-se pela forte adesão do público que acorreu a ambas as margens para assistir àquele que foi o maior evento desportivo realizado em Portugal até aquela data, tendo-se computado uma assistência superior a 50 mil pessoas.
Nesse mesmo ano, as Regatas Internacionais da Figueira da Foz com provas Natação, Remo e Vela tiveram igualmente grande adesão por parte do público, contabilizando-se cerca de 25 mil assistentes.
A realização, a partir da década de trinta, dos Campeonatos Escolares de Remo, organizados pela Federação Portuguesa de Remo e a criação a nível estatal dos Centros de Remo da Mocidade Portuguesa, movimentaram um maior número de praticantes, facto que se reflecte no fomento da modalidade.
Nos anos quarenta organizaram-se várias e diferentes provas destacando em 1944 o I Campeonato de Remo para empregados das Companhias de Seguros, Torneios da Mocidade, o Campeonato Peninsular em 42,43 e 45, e um Campeonato Nacional Universitário em 1945. Em 1947 a FPR organizou a 1ª Conferência Nacional de Remo, publicando também um anuário. No ano de 1948 Portugal inicia a sua participação nos Jogos Olímpicos, aproveitando as excelentes performances das célebres tripulações do S. C. Caminhense e do Galitos de Aveiro. Em 1952,1960,1972,1992,1996 e recentemente em 2008 volta a marcar presença nestes eventos. É na década de quarenta que também se conjectura sobre a construção de uma pista de Remo na Cruz Quebrada, em Lisboa, na Barragem do Ermal, em Braga ou na Pateira de Fermentelos, em Aveiro, desenrolando-se uma acesa discussão sobre o melhor local.
Os anos sessenta destacaram-se pelo início da competição dos Jogos Luso Brasileiros e em 1966 foram criados os escalões etários para os mais jovens, como categoria de remadores. A partir de 25 de Abril de 1974, dá-se início a uma nova etapa no desenvolvimento do Remo desportivo, pautada pelos princípios de democratização do desporto, definidos na política estatal da época, tendo em vista a massificação da modalidade. No âmbito desta política, a Direcção Geral dos Desportos, implementa Planos de Desenvolvimento da Modalidade. Em 1976, inicia-se o processo de formação de treinadores, sistematizados em vários graus. É estabelecido um intercâmbio com a Polónia com a vinda da equipa olímpica polaca durante todo o mês de Fevereiro, tendo, no âmbito do mesmo, sido dada formação a um elevado número de técnicos nacionais. Paralelamente, assiste-se à criação de Escolas de Remo da DGD por todo o país.Nos anos 80, a ANL introduziu a variante de Remo Indoor em Portugal organizando, em 1992, o primeiro Campeonato Nacional de Remo Indoor que conta com um elevado número de participantes. Em 1985, realiza-se o primeiro Congresso de Remo, na Figueira da Foz onde, pela primeira vez, se reúnem todos os agentes desportivos que participam na vida da modalidade, tendo-se debatido amplamente os problemas do Remo.No ano seguinte o Remo passa a integrar as modalidades com planos de Alta Competição que a DGD apoia. Após esporádicas presenças em 1962 e 1982, Portugal inicia, em 1986, a sua participação regular e sistemática em campeonatos do mundo de remo com uma presença em Inglaterra. Dois anos depois, Henrique Baixinho, skiffista peso ligeiro, classifica-se em 4º lugar no Campeonato do Mundo de Milão. Em 1985 disputa-se em Óbidos um Oxford – Cambridge em Shell de oito, numa pista já balizada, embora de forma rudimentar. Também neste ano são iniciados cursos de remo para cidadãos com deficiência. Em 1989 são redigidos os novos estatutos e os treinadores criam a sua própria estrutura – o Conselho de Treinadores. A década de 90 é marcada pelo aumento de participações em competições no estrangeiro e pela obtenção dos resultados mais significativos na História do Remo nacional, destacando-se:
A conquista, em 1990, da primeira medalha na Taça das Nações com uma tripulação feminina em double-skull. No ano seguinte, novamente uma tripulação feminina conquista mais uma medalha na Taça das Nações, uma medalha nas regatas internacionais de Lucerna e atinge a final A no Campeonato do Mundo;
Em 1994, a conquista da primeira medalha num campeonato do mundo com uma tripulação de quadri - skull peso ligeiro. Em 1999, uma tripulação de double-skull masculino, Artur Antunes e Bruno Mascarenhas, conquista o seu primeiro título Mundial, no Campeonato do Mundo de Juniores em Plovdiv, Bulgária; A publicação de legislação sobre o regime jurídico das federações, em 1993, implica que estas alterem os seus estatutos para poderem ser consideradas de utilidade pública desportiva. Em Lisboa realiza-se a Conferência Anual FISA de Treinadores com a presença de técnicos de todo o mundo.Em 1997 tem início o plano de apetrechamento dos clubes, apoiado pela Federação, que viria a contemplar mais de 100 embarcações, dezenas de ergómetros e centenas de remos. Três anos mais tarde, cinco árbitros portugueses obtêm a licença internacional e, quatro deles, passam a partir desta data a marcar presença nas grandes regatas internacionais, incluindo campeonatos do mundo.No Congresso Ordinário da FISA, realizado em Lucerna, Suíça, em Agosto de 2001, José Nunes é eleito Presidente da Comissão do Remo Adaptado, sendo o primeiro português a ter assento nas estruturas executivas da Federação Internacional, devendo-se ao seu excelente desempenho nesse cargo, a participação do Remo adaptado, pela 1ª vez nos Jogos Olímpicos, em Pequim. Em 2002, depois de um processo iniciado em 1997, é inaugurada a pista de Montemor – O – Velho, obedecendo o seu projecto às especificações da FISA para pistas internacionais. Em 2003, e depois de uma primeira participação no ano anterior, uma tripulação de Remo Adaptado de Soure conquista a primeira medalha num campeonato do mundo. A prática desportiva do Remo tem-se diversificado nos últimos tempos e encontramos hoje também nos planos de actividade federativos alem da competição o Remo Indoor, o Remo de Mar, o Remo Adaptado e o Remo de Turismo. A conquista do primeiro título mundial da sua história, em 1999, a organização do Congresso Extraordinário da FISA na cidade do Porto em 2001, com a presença de 200 delegados de 60 países, e a realização em Montemor – O – Velho, em Agosto de 2002, da Coupe de la Jeunesse, competição onde estiveram presentes 400 participantes de 10 países europeus, deram à Federação e ao País, uma visibilidade exterior impensável poucos anos atrás, o que originou através de um grande empenho de António Rascão Marques, presidente da Federação, do Governo, representados pelo ministro da Presidência sr. Dr. e principalmente pelo nosso grande amigo o sr. Secretario de Estado do Desporto, Dr. Laurentino Dias, a conquista da organização do Campeonato da Europa de 2010 ao fim de 86 anos, o que motivou, até um castigo a Portugal pela FISA, devido ao facto de em 1924 e 1954 os Governos de então não terem apoiado a organização do evento já destinada a Portugal.
Deve ser o nosso propósito aproveitar a excelente comunhão existente entre o Governo da Republica e as estruturas dirigentes da Federação para voltar a colocar o Remo no lugar que é seu por direito na Sociedade Portuguesa.
A prática do Remo em Portugal, enquanto desporto organizado, terá começado em 1828 com a fundação do Arrow Club por Abel Power Dagge, os irmãos Pinto Basto e alguns elementos da colónia britânica residente na metrópole, segundo documentos inéditos que nos foram recentemente facultados pela família Dagge.
Do referido acervo documental constavam as actas de fundação de várias associações náuticas, a sua correspondência e deliberações das Assembleias Gerais, assim como memórias de Abel Power Dagge, membro fundador da Real Associação Naval e do Clube Naval de Lisboa, quiçá o primeiro desportista náutico a existir em Portugal.
Segundo José Pontes, no seu livro “Quasi um século de desporto”, a primeira regata de desportistas amadores oficialmente realizada em Portugal foi de Remo, corria o ano de 1849, e foi promovida por Abel Power Dagge.
São célebres, pelo menos a partir de 1852, por ocasião dos festejos anuais de Paço de Arcos, as Regatas em barcos à vela e a remos, promovidas pelo Conde das Alcáçovas, por um grupo de aristocratas, alguns deles ligados à Casa Real, e por elementos da colónia inglesa. A regata de 1853, foi presidida pelo infante D. Luiz que se fez conduzir a bordo do vapor da Marinha de Guerra Portuguesa Conde de Tojal. Aproveitando a estadia do barco de guerra inglês Odin, fundeado na Baia de Paço Arcos, realizou-se uma corrida de remos entre marinheiros portugueses e ingleses. Do programa de 1854, constava a participação de duas guigas de 4 remos, tripuladas por “curiosos”.
Na sequência destes eventos, foi fundada em 1855 a Real Associação Naval, a mais antiga agremiação desportiva da Península Ibérica e uma das mais antigas do mundo.
O interesse despertado pelo «divertimento das regatas», associado ao “gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a remos no Tejo, deram lugar em 1861, à formação de dois grupos de remadores. O primeiro grupo era composto na sua maioria por ingleses mesclado de alguns portugueses e, o segundo, era constituído exclusivamente por indivíduos da colónia alemã. Estes dois grupos de amadores remavam também em guigas de 8 remos, construídas propositadamente para esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que se denominavam respectivamente Lusitânia e Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha 12,80 m de comprimento e 1,83 m de largura, tendo custado 201,600 reis. Segundo os nossos registos, esta guiga deverá ter sido a primeira embarcação desportiva de remo construída em Portugal e por um mestre português. Destes acalorados desafios resulta então a fundação, em Lisboa, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano, dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal.
Numa época em que o remo desportivo era a modalidade de eleição praticada pela elite inglesa residente na região norte é fundado, em 20 de Junho de 1866 o Oporto Boat Club, em 1868 o Clube Naval Portuense e em 1876, o Club Fluvial Portuense, fundado num antigo café da Ribeira, o Café de Santo Amaro, resultante do entusiasmo de um grupo de portuenses pelos desportos náuticos. Este último, ainda em actividade trata-se da colectividade desportiva mais antiga do Norte de Portugal. O Oporto Boat Club era apenas constituído por ingleses, possuindo tripulações de muita qualidade e na altura consideradas invencíveis. Segundo as nossas consultas a sua primeira derrota foi em 1906, sobre a qual tratamos mais à frente.
Na segunda metade do Séc. XIX, a Figueira da Foz era o local de ferias durante os meses de Agosto a Outubro das elites portuguesas, aparecendo a veranear também alguns espanhóis. Neste contexto formam-se na Figueira a Associação Naval Figueirense, com estatutos de 1866 e o Clube Moderno cujos estatutos datam de 1881. A 14 de Outubro de 1880 funda-se em Setúbal a Associação Fluvial Setubalense, mostrando-nos que o gosto pelos desportos náuticos em Setúbal também é muito antigo
Em 1884, ainda por iniciativa de Abel Power Dagge, foi criado o primeiro Campeonato que se realizou em Portugal. As regatas foram efectuadas no Tejo durante três anos seguidos, em skiff, como competidores estiveram os ingleses Hickei e Mitchel e o futuro Barão de Almeirim, Manuel Braamcamp, que venceu os ingleses e conquistou o Titulo de Campeão do Tejo, ganhando uma medalha de ouro que usava com orgulho na corrente do seu relógio. É durante este ano, 1884, que as regatas passam a ser sempre em linha recta na distância de uma milha aproximadamente. Anteriormente eram normalmente efectuadas entre duas bóias com ida e volta.
Em 27 de Janeiro de 1892, são aprovados os estatutos do Club Naval de Lisboa, já em actividade desde Novembro de 1891. Com o aparecimento do Clube Naval de Lisboa os desportos náuticos e o Remo em particular, ganham um notável incremento porque o recém-criado Clube imprime um grande dinamismo na prática desportiva.
No dia 1 de Maio de 1893 é fundada na Figueira da Foz, a Associação Naval 1º de Maio, a primeira colectividade de cariz eminentemente popular instituída em Portugal, nascendo segundo Maria Alice Guimarães, como continuidade da Associação Naval Figueirense. Nesse mesmo ano, a Real Associação Naval e o Real Gimnásium Club Português criam as suas secções de Remo. Na cidade de Aveiro, em 1894, o Ginásio Clube Aveirense organiza uma secção de Remo, que mais tarde viria a chamar-se Clube Mário Duarte. Logo a seguir a 1 de Janeiro de 1895 é fundado o Ginásio Clube Figueirense, como Clube Gimnastico Velocipedico Figueirense, porventura a continuação do Clube Ginástico, fundado anteriormente nesta cidade em 1889.
Em 1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval na qual competiram nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu seis mil visitantes.
Para comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia, o Real Club Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de 1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas que se celebrizaram pelo seu esplendor. Podemos ler no Livro de actas da Comissão de Regatas do Real Club Naval de Lisboa que nesta regata existiram provas disputadas por senhoras da sociedade constituindo, provavelmente, uma das primeiras manifestações de desporto feminino em Portugal.
Aproveitando o apoio e beneplácito do seu Comodoro, Sua Majestade El Rei D. Carlos, o Clube Naval de Lisboa cresceu e difundiu os Desportos Náuticos pelo País abrindo secções e Postos Náuticos em Azambuja, Cascais, Trafaria, Luanda, Lourenço Marques, Portimão, Lagos, Pedrouços e Funchal. Estas delegações evoluíram mais tarde para os actuais clubes existentes nestas localidades.
No alvorecer do século XX despertava grande interesse as regatas em guigas de quatro e de seis remos. No entanto, a falta de uniformidade nas características das embarcações, a que se juntava uma deficiente regulamentação, suscitavam frequentes conflitos que, em alguns casos, conduziam à quebra de relações entre as principais agremiações náuticas. Em 1898, no Centenário da Índia devido a um empate numa regata de Remo os atletas da Real Associação Naval e do Real Clube Naval envolveram-se numa zaragata que destruiu a Cervejaria Jansen, no Cais do Sodré, com prejuízos no valor de 400.000 réis (O Infante D. Afonso quis inteirar-se pessoalmente do ocorrido) e em 1906 houve mesmo um duelo à espada, em Cascais, entre Alberto Totta do CNL e Carlos Sá Pereira da ANL, devido a uma regata da Taça Lisboa.
A necessidade de regulamentação das regatas de Remo mereceu alguma reflexão no “Congresso Marítimo Nacional”, promovido pela Liga Naval Portuguesa, em 1902, sem que contudo daí resultasse alguma alteração tendo, no entanto, sido aprovada a tese “Impulsionamento do rowing nacional. Sua utilização possível na educação física do povo português”, da autoria de Joaquim Leotte dirigente do Clube Naval de Lisboa e o grande responsável pela instituição da Taça Lisboa a prova mais importante do Remo Português.
É neste contexto que em 1904, a pedido de Joaquim Leotte, a Associação Naval de Lisboa, o Clube Naval de Lisboa, o Clube de Aspirantes de Marinha e o extinto Clube Naval Madeirense instituíram a Taça Lisboa em Remo como Campeonato de Portugal, Taça ainda hoje em competição, constituindo a prova desportiva mais antiga do nosso país. Assim nasceu a Taça Lisboa e a Convenção que se lhe seguiu assinada pelos mesmos clubes, a 20 de Abril de 1904. A primeira regata da taça foi realizada a 29 de Maio, ao longo da muralha da Junqueira, entre as docas de Santo Amaro e do Bom Sucesso. A Convenção, o primeiro regulamento de regatas de Remo, estabelece as bases para a regulamentação “das corridas de embarcações de Remo e tinha como fim último promover “o desenvolvimento do rowing portuguez”, a ela se devendo o rápido desenvolvimento que o Remo atingiu nos anos que se lhe seguiram.
Nos Jogos Olímpicos de 1908, Henry Bucknall, o voga da tripulação de Shell 8 de Inglaterra, que venceu a medalha de ouro, foi remador do Clube Naval de Lisboa. Filho do seu Comodoro Bucknall, tendo associado a si e a seu pai uma história de desforra entre o CNL e uns ingleses do Porto, como já tínhamos descrito anteriormente. Em 1906 depois de várias derrotas e humilhações dos remadores portugueses contra as tripulações invencíveis dos ingleses do Porto, o Comodoro Bucknall, agarrou no seu filho e meia dúzia de atletas do CNL e levou-os para estágio para uma propriedade que possuía em Sarilhos. Dos treinos bastante puxados apenas resistiram o seu filho e mais três jovens que desafiaram e venceram os ingleses numa regata em Cascais, era a primeira vez que alguém lhes ganhava. Deverá ter sido, também, o primeiro estágio de “competição” efectuado no nosso Pais. Logo a seguir uma tripulação da Real Associação Naval consegue um feito idêntico e acaba-se o mito dos ingleses do Porto.
Em 1908 o Dr. António Rainha oferece ao Ginásio Figueirense a Taça Mondego para ser disputada em inriggers de 4 remos na distância de uma milha, por todas as tripulações nacionais existentes, sempre no rio Mondego. Em 1911 Francisco Bento Pinto oferece à Associação Naval 1º de Maio a Taça Alzira, disputada no mesmo tipo de embarcação mas como Campeonato Regional. Segundo o grande dirigente figueirense Severo Biscaia: “A disputa da Taça Alzira constituía um grande alvoroço e assunto de todas as conversas, atiravam-se pedras de cima da ponte à passagem das embarcações, e ouviam-se muitos insultos mútuos pois os do Ginásio eram finitos que só comiam bifes e bebiam agua das pedras e os da Naval uma data de carroceiros que se alimentavam a vinho tinto e sardinha.”
A proclamação da República teve repercussões nos Desportos Náuticos, sobretudo na Vela com o desaparecimento dos Yachts Reais. Consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real sofreram um duro revés, foi necessário mudar de nome e de pavilhão. Porém, lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo tempo diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de sócios, respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época. Paralelamente, promovem a construção em Portugal dos primeiros barcos a remos de corrida, nos estaleiros privativos da Associação e do Clube Naval.
Decorria o ano de 1910 quando se funda em Viana do Castelo o Viana Taurino Club o primeiro desta cidade e que iria começar e dinamizar o desporto do Remo no rio Lima, contudo já em 1906 no Jornal Aurora do Lima podemos ler que: “nas festas da Senhora da Agonia realizou-se uma regata de três escaleres a 4 remos”.
Ainda neste ano Armando Soares Franco, Presidente da ANL oferece uma Taça com o seu nome para ser disputada pelas Escolas Superiores de Lisboa e Mauperrin Santos, sócio do Clube Naval, Director da Escola Académica e Presidente da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (futuro COP) oferece também uma Taça com o seu nome que seria disputada pelas Escolas Secundarias e Liceus da Capital, começando então uma nova era no desporto escolar. As regatas eram organizadas pelo CNL e pela ANL com o patrocínio da CML. Alguns anos mais tarde a Federação Portuguesa do Remo continuaria a utilizar essas Taças com o mesmo propósito, nascendo as regatas escolares que se iriam disputar até aos anos sessenta em Lisboa, no Porto e na Figueira.
Nas regatas efectuadas nesse ano, a 3 de Outubro pelo Viana Taurino, em Viana do Castelo, para competição da Taça com o nome do clube, origina-se uma grande celeuma porque um dos competidores, o Clube Fluvial Portuense, coloca slides no escaler Porto que vence a regata mas depois é desclassificado, pelos árbitros. Este episódio fez correr muita tinta nos jornais da época. Na regata participaram clubes de Viana, Esposende, Vila do Conde e Porto. Ainda na mesma regata comentou-se o equipamento dos atletas, se devia ser calça ou calções e lê-se também no Jornal Sport de Lisboa “ (…) A garrafa de excitante despejada à partida pela tripulação do Viana Taurino Clube, a que se refere o Sr. Silveira, não passa de uma simples e inofensiva garrafa de água do Vidago (…).
O ano de 1919 é marcado pela realização, na Figueira da Foz, do Campeonato Internacional de Remo para comemorar a vitória das forças aliadas da Primeira Grande Guerra, onde seria disputada a Taça da Vitória que a par da Taça Lisboa seria a prova mais importante do remo português. Podiam concorrer a este campeonato todas as colectividades desportivas nacionais e estrangeiras legalmente constituídas.
A Taça da Vitória foi instituída pela Associação Naval 1º de Maio e adquirida por subscrição entre as Nações Aliadas da Grande Guerra e destinava-se a ser disputada em outriggers de oito remos. As Nações que subscreveram a Taça foram Portugal, Brasil, América do Norte, Inglaterra, França, Itália, Bélgica, Servia, China, Japão, Grécia, Sião, Roménia, Honduras, Libéria, Panamá, Nicarágua e Peru. Também em 1919 formou-se a primeira Selecção Nacional de remo para os Jogos Interaliados em Paris. Dado que não se realizaram os Jogos Olímpicos, as Nações Aliadas organizaram estas provas, em vários desportos, para moralizar os soldados e aproximar os países amigos. Um misto da ANL e do CNL, representou Portugal e remou em Shell 8 e Shell 4.
No dia 19 de Fevereiro de 1920 na Sala da Associação Naval de Lisboa reúne-se a Comissão Organizadora e Iniciadora da Federação Nacional de Remo, com a participação dos clubes de Lisboa e da Figueira (do Porto não houve resposta à solicitação mesmo depois de serem enviados dois ofícios), marcando então uma reunião de delegados oficiais para o dia 10 de Março, sendo contudo no Congresso Náutico Nacional realizado no Porto, em Abril de 1920, por iniciativa do Clube Fluvial Portuense com o apoio do Sport Clube do Porto, que a Associação Naval de Lisboa e o Clube Naval de Lisboa apresentaram as bases, da Federação Nacional de Remo passando, a partir dessa data, a existir uma entidade reguladora do desporto do Remo em Portugal. Nesse mesmo congresso são também instituídos e regulamentados os Campeonatos Nacionais de Remo
Aos 29 dias do mês de Agosto de 1921 reuniram-se na Sala da Associação Naval, os clubes: Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Associação Naval 1º Maio, Ginásio Clube Figueirense, Clube Naval Setubalense e Sport Algés e Dafundo tendo procedido à eleição da primeira Comissão Dirigente da Federação Portuguesa do Remo que ficou assim constituída:
Presidente – Dr. Carneiro Prego
Secretario – Nuno Vasconcelos
Tesoureiro – José Reis
Vogais – Augusto Salgado e Carlos Botelho Moniz
Em 1922 a Federação Portuguesa do Remo inscreve-se na FISA, o que lhe permite fazer-se representar nos campeonatos da Europa em Como, Itália, em 1923, com uma tripulação de Shell de dois com timoneiro do Sport Clube do Porto e, em 1926, em Lucerna, Suíça, com uma tripulação do Clube Naval de Lisboa que participa nas provas de quatro com e sem timoneiro.
Os Campeonatos Nacionais de Remo de 1931, organizados pelo Clube Fluvial Portuense e pelo Sport Clube do Porto, realizados no Porto, entre o Bicalho e a Alfândega, destacaram-se pela forte adesão do público que acorreu a ambas as margens para assistir àquele que foi o maior evento desportivo realizado em Portugal até aquela data, tendo-se computado uma assistência superior a 50 mil pessoas.
Nesse mesmo ano, as Regatas Internacionais da Figueira da Foz com provas Natação, Remo e Vela tiveram igualmente grande adesão por parte do público, contabilizando-se cerca de 25 mil assistentes.
A realização, a partir da década de trinta, dos Campeonatos Escolares de Remo, organizados pela Federação Portuguesa de Remo e a criação a nível estatal dos Centros de Remo da Mocidade Portuguesa, movimentaram um maior número de praticantes, facto que se reflecte no fomento da modalidade.
Nos anos quarenta organizaram-se várias e diferentes provas destacando em 1944 o I Campeonato de Remo para empregados das Companhias de Seguros, Torneios da Mocidade, o Campeonato Peninsular em 42,43 e 45, e um Campeonato Nacional Universitário em 1945. Em 1947 a FPR organizou a 1ª Conferência Nacional de Remo, publicando também um anuário. No ano de 1948 Portugal inicia a sua participação nos Jogos Olímpicos, aproveitando as excelentes performances das célebres tripulações do S. C. Caminhense e do Galitos de Aveiro. Em 1952,1960,1972,1992,1996 e recentemente em 2008 volta a marcar presença nestes eventos. É na década de quarenta que também se conjectura sobre a construção de uma pista de Remo na Cruz Quebrada, em Lisboa, na Barragem do Ermal, em Braga ou na Pateira de Fermentelos, em Aveiro, desenrolando-se uma acesa discussão sobre o melhor local.
Os anos sessenta destacaram-se pelo início da competição dos Jogos Luso Brasileiros e em 1966 foram criados os escalões etários para os mais jovens, como categoria de remadores. A partir de 25 de Abril de 1974, dá-se início a uma nova etapa no desenvolvimento do Remo desportivo, pautada pelos princípios de democratização do desporto, definidos na política estatal da época, tendo em vista a massificação da modalidade. No âmbito desta política, a Direcção Geral dos Desportos, implementa Planos de Desenvolvimento da Modalidade. Em 1976, inicia-se o processo de formação de treinadores, sistematizados em vários graus. É estabelecido um intercâmbio com a Polónia com a vinda da equipa olímpica polaca durante todo o mês de Fevereiro, tendo, no âmbito do mesmo, sido dada formação a um elevado número de técnicos nacionais. Paralelamente, assiste-se à criação de Escolas de Remo da DGD por todo o país.Nos anos 80, a ANL introduziu a variante de Remo Indoor em Portugal organizando, em 1992, o primeiro Campeonato Nacional de Remo Indoor que conta com um elevado número de participantes. Em 1985, realiza-se o primeiro Congresso de Remo, na Figueira da Foz onde, pela primeira vez, se reúnem todos os agentes desportivos que participam na vida da modalidade, tendo-se debatido amplamente os problemas do Remo.No ano seguinte o Remo passa a integrar as modalidades com planos de Alta Competição que a DGD apoia. Após esporádicas presenças em 1962 e 1982, Portugal inicia, em 1986, a sua participação regular e sistemática em campeonatos do mundo de remo com uma presença em Inglaterra. Dois anos depois, Henrique Baixinho, skiffista peso ligeiro, classifica-se em 4º lugar no Campeonato do Mundo de Milão. Em 1985 disputa-se em Óbidos um Oxford – Cambridge em Shell de oito, numa pista já balizada, embora de forma rudimentar. Também neste ano são iniciados cursos de remo para cidadãos com deficiência. Em 1989 são redigidos os novos estatutos e os treinadores criam a sua própria estrutura – o Conselho de Treinadores. A década de 90 é marcada pelo aumento de participações em competições no estrangeiro e pela obtenção dos resultados mais significativos na História do Remo nacional, destacando-se:
A conquista, em 1990, da primeira medalha na Taça das Nações com uma tripulação feminina em double-skull. No ano seguinte, novamente uma tripulação feminina conquista mais uma medalha na Taça das Nações, uma medalha nas regatas internacionais de Lucerna e atinge a final A no Campeonato do Mundo;
Em 1994, a conquista da primeira medalha num campeonato do mundo com uma tripulação de quadri - skull peso ligeiro. Em 1999, uma tripulação de double-skull masculino, Artur Antunes e Bruno Mascarenhas, conquista o seu primeiro título Mundial, no Campeonato do Mundo de Juniores em Plovdiv, Bulgária; A publicação de legislação sobre o regime jurídico das federações, em 1993, implica que estas alterem os seus estatutos para poderem ser consideradas de utilidade pública desportiva. Em Lisboa realiza-se a Conferência Anual FISA de Treinadores com a presença de técnicos de todo o mundo.Em 1997 tem início o plano de apetrechamento dos clubes, apoiado pela Federação, que viria a contemplar mais de 100 embarcações, dezenas de ergómetros e centenas de remos. Três anos mais tarde, cinco árbitros portugueses obtêm a licença internacional e, quatro deles, passam a partir desta data a marcar presença nas grandes regatas internacionais, incluindo campeonatos do mundo.No Congresso Ordinário da FISA, realizado em Lucerna, Suíça, em Agosto de 2001, José Nunes é eleito Presidente da Comissão do Remo Adaptado, sendo o primeiro português a ter assento nas estruturas executivas da Federação Internacional, devendo-se ao seu excelente desempenho nesse cargo, a participação do Remo adaptado, pela 1ª vez nos Jogos Olímpicos, em Pequim. Em 2002, depois de um processo iniciado em 1997, é inaugurada a pista de Montemor – O – Velho, obedecendo o seu projecto às especificações da FISA para pistas internacionais. Em 2003, e depois de uma primeira participação no ano anterior, uma tripulação de Remo Adaptado de Soure conquista a primeira medalha num campeonato do mundo. A prática desportiva do Remo tem-se diversificado nos últimos tempos e encontramos hoje também nos planos de actividade federativos alem da competição o Remo Indoor, o Remo de Mar, o Remo Adaptado e o Remo de Turismo. A conquista do primeiro título mundial da sua história, em 1999, a organização do Congresso Extraordinário da FISA na cidade do Porto em 2001, com a presença de 200 delegados de 60 países, e a realização em Montemor – O – Velho, em Agosto de 2002, da Coupe de la Jeunesse, competição onde estiveram presentes 400 participantes de 10 países europeus, deram à Federação e ao País, uma visibilidade exterior impensável poucos anos atrás, o que originou através de um grande empenho de António Rascão Marques, presidente da Federação, do Governo, representados pelo ministro da Presidência sr. Dr. e principalmente pelo nosso grande amigo o sr. Secretario de Estado do Desporto, Dr. Laurentino Dias, a conquista da organização do Campeonato da Europa de 2010 ao fim de 86 anos, o que motivou, até um castigo a Portugal pela FISA, devido ao facto de em 1924 e 1954 os Governos de então não terem apoiado a organização do evento já destinada a Portugal.
Deve ser o nosso propósito aproveitar a excelente comunhão existente entre o Governo da Republica e as estruturas dirigentes da Federação para voltar a colocar o Remo no lugar que é seu por direito na Sociedade Portuguesa.
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