O
Remo como desporto de competição é um dos mais antigos e tradicionais.
Regatas
entre galeras faziam parte das civilizações egípcias, gregas e romanas. O Faraó
Amenophis II foi imortalizado na sua tomba remando, há também excertos de uma
regata em Veneza durante o ano de 1315.
O
remo de competição popularizou-se a partir do inicio de 1700 com as regatas ao
longo do Tamisa, das quais a mais antiga que se conhece é a Doggett´s Coat and Badge Race que ainda
toma lugar desde 1715.
A
prova tem cerca de 4 milhas e passa, por baixo de onze pontes, o prémio para o
vencedor é um casaco de Waterman (barqueiro do Tamisa) com um crachá de prata
para o vencedor e de Bronze para os outros competidores. Foi instituída por
Thomas Dogget um actor comediante irlandês que segundo a lenda foi salvo por um
barqueiro. Dogget promoveu a regata até à sua morte em 1721 mas deixou
instruções no seu testamento para a continuação da prova.
Originalmente
a regata desenrolava-se a 1 de Agosto de cada ano para comemorar a ascensão de
George I, da casa de Hannover, ao trono de Inglaterra. No crachá o Cavalo simboliza
a casa de Hannover e tem a palavra “Liberdade” escrita.
Em
Inglaterra nos finais do século 18 a prática do Remo foi integrada no Desporto
Universitário o que proporcionou um incremento do seu exercício, principalmente
depois de em 1829 ter sido estabelecida a primeira das tradicionais regatas
entre Oxford e Cambridge.
Dez
anos volvidos e efectuava-se a primeira das célebres regatas de Henley.
Nos
Estados Unidos a regata de Yale contra Harvard teve o seu início em 1852.
O
Canadiano Ned Hanlan (“The Boy In
Blue”, era conhecido assim porque envergava uma camisola azul) praticou remo a
nível profissional e sagrou-se Campeão do Mundo entre 1880 e 1884 em Skiff,
ainda antes das Olimpíadas, a sua popularidade deu-lhe o direito a uma estátua
na sua terra natal. Foi também Imortalizado no cinema por Nicolas Cage.
Há
diversas histórias sobre a sua qualidade como atleta – uma delas numa regata contra
o Campeão americano Morris, parou duas vezes para esperar por ele e ainda venceu
por três comprimentos.
Contra
o Campeão Australiano Trickett – que era muito arrogante – Hanlan durante a
prova brincava com o público gritando e atirando beijinhos, remando aos zig
zags e numa vez depois de passar a Meta voltou para trás colocando-se ao lado
do adversário e ainda cortou a meta primeiro que ele – criando o mito do atleta
que venceu a mesma prova duas vezes!
A
Federation Internationale dês Societès d´Aviron (FISA), fundada em 1892, é a
mais antiga de todas as Federações desportivas, possui a sua sede em Lausanne e
tem mais de uma centena de membros. A Federação Portuguesa do Remo, fundada em
1920 é membro da Federação Internacional desde 1922. Dos seus clubes federados
contam-se nove centenários.
No livro de José Pontes, “Quasi um século de desporto”, tomamos conhecimento que em 1849 Abel
Power Dagge “teve a veleidade de organizar
uma regata” de Remo, tendo sido esta portanto a primeira prova organizada
em Portugal, segundo o autor.
O interesse despertado pelo «divertimento das
regatas», associado ao “gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a
remos no Tejo, deram lugar à formação de dois grupos de remadores que podem ser
considerados os grandes percursores do desporto do Remo em Portugal. Abel Power
Dagge, um dos fundadores da Real Associação Naval e, mais tarde, também
fundador do Club Naval de Lisboa, fazia parte desse grupo. Estes dois grupos de
amadores além dos barcos de quatro e seis remos remavam também em guigas de 8 remos, construídas propositadamente para
esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que
se denominavam respectivamente Lusitânia e
Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha (12,80 m) de comprimento e (1,83
m) de largura, tendo custado 201,600 reis,
Esta guiga segundo os nossos registos deverá ter sido
a primeira embarcação de Remo desportivo construída em Portugal e por um
construtor português.
Destes
acalorados desafios resulta a fundação, em Lisboa no ano de 1862, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano (sucessor do Arrow Club
fundado em 1828), dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal,
que a 8 de Maio de 1873 se fundiriam com o nome de Rowing Club de Lisboa e que em1891 deu origem ao Clube Naval de
Lisboa. O Lusitano face aos problemas financeiros em 1870 já se tinha fundido
com o Clube Naval do Tejo mantendo o seu nome.
Tipos
de sócios :
Sócios
Capitalistas – Jóia de 10$000 rs
Sócios
Subscreventes – não paga jóia mas não
tem direito ao material do clube
Os
atletas do Tagus Rowing Club eram, na sua maioria, originários da colónia Alemã
existente na Capital (Pressler e Rainer Daehnhardt eram os mais conhecidos), enquanto
os remadores do Lusitano eram formados por alguns portugueses nomeadamente os irmãos
Pinto Basto enquadrados pelos ingleses que residiam em Lisboa e que traziam o
gosto pelas actividades náuticas da velha “Albion”. Ainda em 1871 encontrámos
referências a agremiações denominadas “ Club
Naval, Club do Tejo, Club dos Remeiros Corsário”. Estes clubes possuíam
além das duas guigas atrás descritas, as seguintes guigas: de 4 remos a Janota,
a Ondina que se afundou no Tejo em 1882, a Sybilla, a Lançada, a Flirt, a
Attempt e a Nereida.
De
6 remos existiam a Alice, a Corsário, a Rower, a Mizpah, a Branca (de D.
Afonso), a Verde (de El Rei D. Luís) e a Preta (da Rainha), possuíam ainda os
outrigger Swallow, Dark e Light, remavam também em Escaleres e Catraios de 4
remos e nas Canoas dos Yachts de um só homem. Os britânicos Hickie e Mittchell
já remavam nos seus próprios Skiffs. Salientamos também as célebres Guigas
Ophélia de El Rei D. Carlos e a Vega de Sua Majestade a Rainha, com grandes
despiques entre sócioas da Real Associação Naval e do Real Ginásio.
Apesar
do começo da prática e regulamentação do Remo ter acontecido em Lisboa e Paço
de Arcos foi em Cascais que se dinamizou e conheceu um maior incremento.
Tendo
o Rei D. Luís escolhido Cascais para passar a época balnear em 1870 trouxe
consigo a prática do Remo e o divertimento das Regatas. A imprensa da época regista
que a primeira regata de Remo em Cascais terá sido organizada logo em 1872 mas
a partir dessa data as Regatas de Cascais tornaram-se um hábito organizadas
primeiro pela Real Associação Naval e mais tarde também pelo Real Clube Naval
de Lisboa que em 1902 abriu até uma Secção na sua bela Baía.
Nos
Jornais da época o anúncio dos eventos era constante e os Vapores Lisbonenses
criavam carreiras especiais para os entusiastas assistirem às provas. Também ainda
existem, felizmente, inúmeros pósteres das regatas de Cascais onde nos podemos
deliciar com a descrição pormenorizada das provas, dos remadores e remadoras e
as suas toilettes, as actividades anexas tais como o pau ensebado com ou sem
porco no cesto, a caça ao pato e os jantares com baile para a entrega dos
prémios.
Desde
1872 até 1910 a Baía de Cascais foi palco anualmente de inúmeras histórias e
desafios cheios de paixão clubística alguns deles desconhecidos e muito
curiosos.
Até
1880 a Regata de Cascais realizava-se sempre em Setembro. contudo, em 1881 as
provas realizaram-se no dia 2 de Outubro para no ano seguinte voltarem a Setembro
e irem alternando entre estes dois meses até ao fim da Monarquia, quando
Cascais deixou de ter a sua Regata anual.
Escolhemos
algumas histórias e acontecimentos que demonstram a relevância de Cascais no
desenvolvimento da prática do Remo e não só.
A
título de exemplo em 1878 serviu para estrear o Vapor Aurora que levou os vários
convivas à Vila. A viagem demorou uma hora e trinta minutos entre Lisboa e
Cascais e mais dez minutos na volta, lê-se no Diário Ilustrado que era “uma
excelente embarcação com muitas comodidades pertencente à frota da Aldeia
Galega propriedade do sr. França Netto”.
A
Baía ficava inundada de pessoas em terra e dentro de água. Nos Vapores seguia
desde Lisboa uma Banda que tocava para os convidados, parando até em Paço de
Arcos para receber mais passageiros quando a lotação não ia completa.
Em
1881, Segundo a história por altura das regatas de Cascais desse ano
compareceram à prova alguns atletas do Clube Fluvial Portuense que trouxeram o
Escaler Brito Capelo para competir contra o Escaler do Rei. Após as regatas
efectuou-se, como costume, um baile na Cidadela para homenagear os concorrentes
e distribuir os prémios. Sua Majestade El Rei D. Luiz, que presidia ao baile,
notou a falta “dos rapazes do Porto”.
No
dia seguinte D. Luiz enviou os seus ajudantes de campo ao hotel onde estavam
alojados os dirigentes do Fluvial para trazê-los ao Palácio. Na presença de Sua
Majestade os dirigentes ouviram as suas desculpas e informou-os que o clube
iria ser distinguido com o título de Real sem pagar os respectivos direitos.
D. Luiz – o Rei Marinheiro e D. Maria Pia
assistiam sempre às Regatas normalmente passeando numa embarcação à Vela ou a Vapor.
Não temos conhecimento que remasse no entanto o seu Filho D. Carlos e o neto D.
Luiz Filipe deixaram-se converter à saudável prática do Remo.
No
dia 29 de Setembro de 1883 realizou-se uma regata de Guigas com crianças entre
os 7 e 12 anos que disputavam um prémio oferecido pela Rainha, tendo a prova
sido adiada para a Rainha poder estar presente. A partir desta data os mais
novos começaram a integrar as regatas de Remo com frequência.
Nessa
prova os Remadores foram Francisco e Sebastião Gil de Herédia, João Pinto Leite
e o voga Francisco Figueira da Câmara, na Guiga Naiade e na Janota remaram Luis
Trigoso, António Gil de Herédia, Manuel da Cunha e Menezes e voga foi José
Pinto Leite.
Na
regata de 27 de Setembro de 1885 os exploradores Capelo e Ivens participaram nas
provas timonando cada um uma Guiga nas regatas de Remo.
Entre
1884 e 1885, Capelo e Ivens realizaram uma nova exploração em África, primeiro
entre a costa e o planalto de Huíla e depois através do interior até Quelimane,
em Moçambique. Continuaram, então, os seus estudos hidrográficos, efectuando
registos geográfico-naturais mas, também, de carácter etnográfico e
linguístico. Estabeleceram assim a tão desejada ligação por terra entre as
costas de Angola e de Moçambique. Partiram para essa missão a 6 de Janeiro de
1884 e regressaram no dia 20 de Setembro de 1885 tendo sido recebidos
triunfalmente pelo rei D. Luís.
Em
1888 a tradicional regata de Cascais realizou-se a 24 de Setembro e à noite
houve um baile para entrega dos prémios que contou com a presença do Príncipe
Regente D. Carlos e de D. Amélia tendo sido esta a primeira prova presidida
pelo futuro Monarca.
Nesta
regata houve uma prova entre senhoras da sociedade em que remaram as senhoras
D. Margarida e Marianna Salema, Leonor Atalaya, Piedade Asseca, as filhas do
Conde de Sobral, Isabel Ornellas e Gabriela Ferreira Pinto Basto, podemos
afirmar que o evento contribuiu para o início da prática mais regular do Remo
feminino tendo inclusive em 1901 D. Afonso timonado uma guiga de remadoras nas
provas de Cascais.
Na
regata de Cascais de 22 de Setembro de 1889 a Real Associação Naval promove as
Regatas de Remo em linha na distância de uma Milha, imitando o que já se fazia
noutros países. De notar que D. Afonso presidiu a esta Regata.
Em
1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a
Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval, na qual competiram
nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande
adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos
maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu
seis mil visitantes.
Para
comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia, o Real Club
Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de
1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas
que se celebrizaram pelo seu esplendor. A imprensa da época retracta da
seguinte forma esta prova:
-
“ (...) A natureza, querendo hontem
galardoar os esforços de um punhado de rapazes que n´esta terra ainda se
interessam pelo sport náutico, vestiu-se de gala e deu-lhes tudo o que era
necessário para esse fim: vento fresco para as corridas de vela; brisa suave para
os espectadores encalmados; lux difusa para os amadores photograficos – que
eram bastantes, – e mar de leite para as regatas de remos. Isto posto, vamos ao
resultado d´essa bela festa. Sua Magestade El-Rei assistiu a toda a regata, de
bordo do Iate Lya, pertencente a sua augusta esposa. O lindo barco arvorava o
distinctivo do Real Club Naval de
Lisboa. (...)”.
De
certa maneira o Real Clube Naval substituía assim a Real Associação Naval na
organização anual da regata de Cascais.
Em
1906 por altura da disputa da Taça Lisboa e após vários artigos publicados nos
jornais por Alberto Totta do CNL e Carlos Sá Pereira da ANL sobre os atletas
que mudavam de clube para terem melhores condições de treino e embarcações mais
modernas e leves – os trânsfugas -, ambos consideraram-se ofendidos e a
contenda foi mesmo decidida em duelo à espada. Realizou-se no dia 15 de Julho
junto do Farol da Guia, havendo duas testemunhas para cada esgrimista e a
presença de dois médicos. O Mestre António Martins do Ginásio Clube Português foi
nomeado director do combate. O primeiro assalto foi interrompido porque as
armas tocaram no chão e tiveram que ser desinfectadas.
Ao
terceiro assalto porque Alberto Totta tinha sido ferido no cotovelo, pararam o
combate e verificarem que Sá Pereira também já tinha um ferimento no antebraço,
os médicos decidiram então que o combate não podia continuar. Uma das regras
era que o combate terminava com o derramamento de sangue.
Em 1907 nas Regatas em honra do Príncipe D. Luiz
Filipe na qual se disputaram provas de remo, vela e barcos automóveis pela
primeira vez em Portugal, escreveu-se mais uma página de ouro do Remo em
Cascais. Depois de várias derrotas e humilhações dos remadores do Clube Naval e
da Associação Naval contra as tripulações invencíveis dos ingleses do OPorto
Boat Club, o Comodoro Bucknall do CNL, agarrou no seu filho Henry e meia dúzia
de atletas do CNL e levou-os para estágio para uma propriedade que possuía em
Sarilhos. Dos treinos bastante puxados apenas resistiram o seu filho e mais
três jovens que desafiaram e venceram os ingleses nestas regatas de Cascais,
era a primeira vez que alguém os vencia. Deve ter sido, também, o primeiro
estágio de “competição” efectuado no nosso Pais.
Logo a seguir uma tripulação da Real Associação Naval
consegue um feito idêntico e acaba-se o mito dos ingleses do Porto.
O interessante é que Henry Bucknall estudava em Oxford
e tinha vencido a Regata Oxford – Cambridge em 1905. Na tripulação do Porto
estava também Johnstone um seu rival de Cambridge que tinha perdido contra
Bucknall naquele ano de1905 mas vencido as regatas de 1906 e de 1907. Outra nota importante é que estes
dois atletas representaram no ano seguinte a Inglaterra nos Jogos Olímpicos de
1908 em Londres e venceram a medalha de Ouro na prova de oito.
A proclamação da República teve repercussões nos
Desportos Náuticos consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real
sofreram um duro revés. Foi necessário mudar de nome e de pavilhão. Porém,
lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo
tempo que diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando
secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade
cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção
de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de sócios,
respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época. Sem o
mecenato da Família Real e da Nobreza em geral foi necessário conseguir acesso
a outras fontes de financiamento por isso os clubes de Remo procuraram outras
paragens e aproveitaram o apoio das localidades de Vila Franca, Seixal,
Alcochete, Azambuja, e até mesmo Sines organizando provas e passeios nesses
locais. Por este facto só em 1912 é que temos conhecimento de regatas em
Cascais, apesar do CNL ainda possuir a sua secção na Baía. As provas seguintes realizaram-se
apenas em 1916 nas quais a tripulação vencedora era composta por remadores
desta secção do Clube Naval.
O ano de 1916 fica também marcado, através de uma
iniciativa de Charles Bleck, pelas reuniões entre o Ministério da Guerra e os
clubes Náuticos de Lisboa para cedência das embarcações dos sócios da ANL e do
CNL para vigilância dos portos. Os seus sócios foram equiparados ficando com
graduações militares.
Com a I Guerra Mundial muitos atletas foram
mobilizados e alguns acabaram mesmo por perecer em terras longínquas, os clubes
vegetavam , havia falta de mão-de-obra. O Remo outrora Rei, tinha que rivalizar
com outros desportos emergentes tais como a Natação, o Polo Aquático e,
principalmente, o Futebol que começava a roubar adeptos e paixão ao nosso
desporto: até a Taça Lisboa não se realizou em 1917 por falta de remadores
disponíveis.
Em 1925 a FISA, pretendendo homenagear o Remo
português, convidou Portugal para organizar os campeonatos da Europa de 1926.
para o efeito foi nomeado o Presidente da Assembleia Geral da FPR, Álvaro
Lino Franco, como Vice-Presidente
da Federação Internacional de Remo. Pedro Peters, na altura o Presidente da
Comissão Dirigente, deu conhecimento na AG de 5 de Dezembro de 1925 que o
governo de Portugal se tinha comprometido com um subsídio de 500 000$00 para a
organização dos Campeonatos da Europa e também para a dragagem do rio Mondego
na Figueira da Foz, local onde se desenrolaria a prova. O seu não cumprimento pelo
governo motivou a vergonha da FPR, a demissão de Álvaro Franco da FISA e o
castigo a Portugal, tendo sido retirado o apoio da Federação Internacional ao
transporte das embarcações para os Campeonatos da Europa. Tal resultou na
ausência forçada do nosso país durante largos anos às provas internacionais!
Só a 18 de
Setembro de 1927 se voltaram novamente a realizar regatas de Remo na Baía,
desta feita entre o Clube Naval e o Vacum Sports Club, integradas na Festa
Náutica organizada pelo Grupo Náutico Português (clube formado a partir de
alguns entusiastas da Vela sócios descontentes da Associação e do Clube Naval).
O Chefe de estado e o Governo assistiram ao desenrolar destas provas. O
Programa incluía uma Corrida de Hidroaviões, Regatas de Vela, Provas de Natação
e Regatas de Remo. Durante as festividades, realizou-se uma bênção de
embarcações, fogo-de-artifício e os prémios foram distribuídos durante o Baile
no Casino Internacional do Monte Estoril.
As provas serviram para a reabertura oficial da Secção
de Cascais do Clube Naval de Lisboa que receberia, no dia 16 do mês seguinte,
uma tripulação de três Dinamarqueses que seguiam numa Guiga a Remos a caminho
da India, tendo demorado quatro horas e meia entre a Ericeira a Cascais.
Depois em 1929 e no ano seguinte ainda se realizaram
regatas de remo na Baía, mas só em meados dos anos 30 o Remo seria novamente
cabeça de cartaz em Cascais com a organização da I Semana Náutica Internacional
do Estoril que se desenrolou entre os dias 23 e 30 de Agosto de 1936.
Existiram provas de Remo, Vela, Motonáutica e Natação,
mas a Jóia da coroa foi mesmo o Remo cujo programa incluía os dias de França,
do Porto, da Bélgica, da Figueira da Foz, da Inglaterra e, para finalizar, o
dia de Portuga,l onde se disputou a extraordinária Taça Portugal.
Estiveram
presentes atletas de França, Bélgica e Inglaterra. Os portugueses vieram de
Lisboa, Barreiro, Porto e Figueira da Foz. A par das Regatas Internacionais da
Figueira da Foz, foram as manifestações desportivas mais importantes da década,
No
primeiro dia de provas o Presidente da República, General Carmona, esteve
presente e inclusivamente deu a partida para a disputa da Taça de França.
Os
clubes estrangeiros dominaram todos os eventos em que participaram mas no
último dia de provas Cascais volta a ficar na história do remo com a disputa do
primeiro Campeonato Nacional de Outriggers de oito vencido pelo Clube
organizador – Clube Naval de Lisboa - em que participaram também as equipas da
Associação Naval, do Sport Clube do Porto, do Clube Fluvial Portuense e da
Associação Naval 1º de Maio da Figueira da Foz.
Embora
a Semana Náutica previsse a continuidade anual, a saída da Presidência do Clube
Naval do Eng. Abreu Nunes, empresário Cascalense fundador da Junta de Turismo
do Estoril e Director da Sociedade Propaganda de Cascais, inviabilizou os
apoios necessários para a organização da prova no ano seguinte.
Acredito
que em resultado desta sinergia, a maioria dos sócios do Clube Naval da secção
de Cascais juntaram-se ao movimento para a Fundação do Clube Naval de Cascais em
1938 ainda como Clube Náutico Afonso Sanches.
Alguns
destes membros ainda mantinham o gosto pela arte de remar mas a Vela foi sempre
o grande desígnio do Clube Naval de Cascais que mesmo assim se filiou na Federação
em 1943 com cerca de 20 praticantes inscritos e duas embarcações na sua frota.
O objectivo da secção era a prática salutar do remo e o passeio na Baía, porém
distinguimos a tripulação composta por José Antunes Pinto, João Soares, José
Gonçalves, João Galamas e Manuel Marques como timoneiro que representando o
Clube Naval de Cascais no Campeonato de Principiantes em 1945 tiveram uma
excelente participação.
Nascido
no ano seguinte ao Clube Naval, em 1939, a partir da Sociedade Estoril Plage
mas mais para a prática da Natação e do Futebol o Grupo Desportivo Estoril
Praia, inscreveu-se na Federação em 1945 para começar logo a brilhar no
desporto do Remo. Com 45 praticantes federados contava com 3 barcos na sua
flotilha. Um deles de construção Suiça da empresa Stanfli, um Shell 4 de grande
qualidade que mais nenhum clube em Portugal possuía.
Logo
em 1945, 46 e 47 o clube da Linha de Cascais conseguia excelentes resultados
para a região pois verificámos que
nestes anos o Estoril foi Campeão Regional de Principiantes e Campeão Nacional
de Juniores e Seniores com as seguintes tripulações:
Campeões
Regionais de Principiantes Yolle de 1945: Manuel Saldanha, Manuel Matias,
Emílio Sotivy, Fernando Bravo e o timoneiro Orlando Basso
Campeões
Regionais de Juniores Yolle 1945: Manuel Saldanha, Manuel Matias, Mário Lopes
da Costa, Mossod Bilton e Orlando Basso a timonar.
Campeões
Nacionais e Regionais Juniores e Seniores Yolle 1946: Fernando Nunes, Emílio Sotivy,
Mário Lopes da Costa, Manuel Matias e timoneiro Orlando Basso
O
Campeonato Nacional de Yolle de 1946 foi mesmo uma organização do Grupo
Desportivo Estoril-Praia.
Ainda
em 1947 a tripulação do Estoril-Praia composta por: Manuel Saldanha, Alfredo
Morgado, Mário da Costa, Manuel Matias e o timoneiro Orlando Basso tiveram
mesmo o atrevimento de competirem na Regata da Taça Lisboa em Shell 4, nesta
altura já dominada pelos clubes de Aveiro, Porto e Caminha e até abandonada a
sua disputa pelos clubes de Lisboa. Em 1950 Manuel Matias representou ainda os
canarinhos competindo em skiff nos Campeonatos Peninsulares de Remo.
A
nível regional os anos de 1940 e 1950 foram muito severos para os clubes de
Lisboa que viram o Remo de competição desviar-se para Norte onde as águas eram
mais propícias a remar com embarcações de muito frágil construção. A par disso
o desenvolvimento das escolas de remo da Mocidade Portuguesa, com os seus
Centros de Remo esvaziou os clubes que se viram privados de financiamentos e de
atletas o que motivou a sua estagnação.
Lemos
então no relatório da Federação de 1953 que o “Grupo Desportivo Estoril-Praia,
que durante alguns anos se fez representar em provas oficiais, animando as
disputas de regatas na zona a que pertencia, por circunstâncias certamente
alheias à sua vontade, abrandou nos últimos anos o entusiasmo que vinha dando à
modalidade, deixando por completo na época transacta de participar em provas,
acabando por solicitar a sua desfiliação em 18 de Juno de 1953 (…) e líamos
também:
Mais uma desfiliação nos foi solicitada, em 11
de Março, de 1953 e igualmente deferida: a do Clube Naval de Cascais, um dos
mais antigos filiados da Federação e que desde há muito praticamente tinha
paralisado a sua secção de Remo.
Vimos
assim desaparecer o Remo na linha de Cascais, que por pouco não atingia um
século de existência.
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