O Mestre Fernando já merecia um Post no meu Blog, normalmente coloco aqui "velharias" recordações do passado longínquo.
Lembrei-me de vos mostrar o último Construtor Naval de Barcos de Remo em Madeira -Yolle -
Fernando de Almeida Matos, para todos nós é o Mestre Fernando, com mais de
quarenta anos de trabalho na construção e reparação de barcos de Remo, premiado com
a Medalha de Honra da Federação Portuguesa do Remo como reconhecimento pelo
trabalho desenvolvido em prol da modalidade. Começou a trabalhar com dezoito anos
na construção civil, tendo sido depois chamado para a defesa do país na guerra colonial
em Angola, fixou aqui morada depois de terminada a sua comissão. Ainda nesta antiga
colónia portuguesa surgiu a sua paixão pela construção naval quando começou a
trabalhar nos estaleiros navais de Luanda. Em 1964 construiu o seu primeiro barco a
remos e depois da sua vinda para Lisboa ficou ligado à antiga DGD, mais
concretamente ao Estaleiro Nacional onde durante vários anos, com um destacamento
na FPR, passaram praticamente pelas suas mãos todos os barcos em madeira do Remo
nacional. Com o advento das novas tecnologias adaptou-se rapidamente e juntou a fibra
e todos os materiais compósitos ao seu trabalho no dia a dia.
O Mestre sempre fez milagres, barcos partidos ao meio, grandes buracos, aranhas tortas,
remos, tudo o Mestre repara sem ajuda de grandes moldes ou ferramentas elaboradas, com
a sua perspicácia e inteligência desenvolve os meios que adapta para a reparação das
embarcações.
Há uns anos, enquanto responsável pelo CNL, encomendei-lhe um Yolle de quatro,
disse-me que queria experimentar algo de novo, dado que estas embarcações são
construídas em madeiras nobres muito frágeis, de fácil quebra tanto na terra como na
água.
Procurámos em vários estaleiros pelo contraplacado marítimo adequado, na sua visão,
para a construção do barco, para mim ficou fantástico, mas para os seus olhos de lince a
madeira era de má qualidade, mal preenchida por dentro e não tinha os atributos que ele
achava adequados, apesar de ser o barco mais leve do nosso país (90 Kg ) e ter sido
campeão nacional em todas as categorias. Quando eu, ainda como presidente do Clube
Naval de Lisboa, o único clube em Portugal que o fez Sócio de Mérito, lhe encomendei
um Yolle de 8, disse-me que só o construiria se eu “lhe conseguisse contraplacado
marítimo francês”. O Paulo Ferreira e eu movemos tudo para conseguir a madeira
indicada para o Mestre construir a sua obra-prima, lá conseguimos o nome e a morada
de uns estaleiros franceses e com a ajuda da Nautiquatro, trouxemos a madeira especial
para a construção do melhor Yolle de oito jamais construído em Portugal e quiçá no
Mundo. O barco ficou lindo e com uns meros cento e cinquenta quilos…
O Mestre faz parte da vida dos clubes lisboetas e de todo o país vêm barcos em mísero
estado para serem salvos pelo Mestre no Estaleiro da FPR situado no Cais do Gás em
instalações cedidas graciosamente pela Câmara Municipal de Lisboa.
Ei-lo aqui em plena laboração, onde gosta de estar mais
Também gosta de posar junto da sua obra prima.
O estaleiro do cais do Sodré a sua casa...
E não é que consegui convencer o Mestre a timonar um Yolle e ainda por cima construído por ele? Foi a primeira vez que o Mestre saiu num Yolle. O CNL ainda não tinha a Prancha de Embarque, era um desafio Remar ali para os lados do Cais do Sodré. Só com uma grande vontade e amor ao Desporto se saía para a água, Um Clube Náutico Centenário e que condições, PORTUGAL.
04 de Julho de 2004.
Na primeira saída com uma tripulação de Campeões e com o melhor Timoneiro do Mundo. E o Barco pesa apenas 90Kg, dois atletas conseguem transportá-lo e manobrá-lo fácilmente fora de água. Um mimo.
Roubei esta foto na Net, porque não a tinha quando inaugurámos oficialmente os Yolle 8 ( Mestre Fernando) e o Yolle 4 (Arnaldo Cordeiro).
A filha do Arnaldo Cordeiro, glória do Clube Naval de Lisboa, inaugurando o barco com o nome do Pai, uma promessa minha antiga que consegui satisfazer.
O Mestre a inaugurar o barco com o seu nome...
Ficou espetacular não ficou?
A saída para a água no espetacular pontão do CNL adquirido com o apoio do IDP.
O Yolle 8 na saída da inauguração como não podia deixar de ser com o melhor proa, e a Catarina a Timonar.
O Mais velho dos barcos também navegou.
Na Lisboa Classic Regatta, barcos construídos e reparados pelo Mestre levam dentro tripulações inglesas de Oxford e Cambridge.
6 comentários:
Excelente artigo.
O Mestre Fernando já merceria um trofeu com o nome dele.
Carlos, cá estou eu a aprender contigo.
Continua, a ARTE do Shipping é única e tu demonstras bem isso.
Saudações Marítimas
José Modesto
É de enaltecer o esforço conjunto de Direcções e Atletas,infelizmente passa-se o mesmo por todo o País,não existe apoio suficiente às colectividades como a vossa.Caro Amigo,aproveito para desejar-lhe uma Páscoa Feliz e esperança de que cheguem melhores apoios...
José Castro
Obrigado a todos,
O Mestre é de facto uma figura ímpar do nosso Remo.
Os desportos náuticos deviam ser um espelho do nosso país de marinheiros...
Carlos
Conheço este Senhor desde 1992 quando comecei a remar no CFP. É com grande prazer que descubro este Blog e muito mais um post sobre o Mestre Fernando. Estamos agora em 2017 e retornei ao Remo no meu Clube Mãe (CFP)há duas semanas atrás. E ontem vi o Mestre Fernando! Bem vinda seja a Nostalgia dos meus dias e cá estou a tentar reviver um bocadinho do que adoro, que é o Remo.
Cumprimentos e Parabéns!
Fernando Costa
Que bom ver aqui um grande Mestre, meu primo, que muitas vezes me aturou na Mocidade Portuguesa em Luanda, onde trabalhou e onde aprendi remo,
Um grande ser Humano, um grande Mestre
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