Deve-se à Grécia antiga a Fundação dos Jogos. Integrados em festivais religiosos, realizavam-se em diversos locais, sendo que os Pan – Helénicos, tinham um carácter mais aberto, uma vez que permitiam a participação de atletas de todas as Regiões e Colónias Gregas.
Os Jogos realizavam-se de quatro em quatro anos e denominavam-se segundo o lugar da sua localização: Piticos, Nemeus, Ístmicos ou Olímpicos.
Os Eventos Olímpicos compreendiam as modalidades de Boxe, Luta Livre, Lançamento de Disco, Remo, Pentatlo, Salto, Corrida de Mensageiros e Trompeteiros e Corridas Equestres.
Em 391 DC, o Imperador Romano Teodósio proibiu por Decreto todos os Cultos Pagãos, incluindo os Jogos, facto que motivou um interregno no Movimento Olímpico.
Ainda em 426 DC, Teodósio II mandou queimar o Templo de Zeus entre outros edifícios, tendo provavelmente sido este o último ano da realização dos Jogos Olímpicos da Antiguidade.
O desporto em Portugal começou muito cedo, com a prática de Remo em 1828, por intermédio da Colónia inglesa radicada em Portugal e por acção dos irmãos Pinto Basto.
Só em 1855, com a Fundação da Real Associação Naval, a prática desportiva se tornou mais frequente, nomeadamente a Vela e o Remo.
Os Jogos Olímpicos da Era Moderna iniciaram-se em 1896, sob o alto patrocínio do Barão Pierre de Coubertin.
Apesar de no nosso País há muito se praticar desporto, as Sociedades Desportivas impunham as suas próprias Regras sem um entendimento comum, o que dificultava a existência de entidades agregadoras de modalidade.
Por essa altura, os atletas eram normalmente Bons Vivants, praticando ao mesmo tempo diversas modalidades, facto que impedia uma especialização que, aliado á inexistência de uma entidade agregadora e regulamentadora do desporto nacional (federação) e à falta de disponibilidade financeira da época, impediram a participação nos Jogos Olímpicos de atletas portugueses mais cedo do que o ocorrido.
O Movimento Olímpico em Portugal, terá principiado com a nomeação, em 1906, de D. António de Lencastre, como encarregado de negócios do Comité Olímpico Internacional no nosso país, por sugestão de El Rei D. Carlos, à época Comodoro da Real Associação Naval.
Todavia, a nossa primeira participação nos Jogos Olímpicos só ocorreu em 1912, ano em que pela primeira vez surge a denominação de Comité Olímpico Português, nascido a partir da Sociedade Promotora da Educação Física Nacional (SPEFN), fundada três anos antes. Era esta agremiação que realizava os Jogos Olímpicos Nacionais, um conjunto de provas de vários desportos que coroava o Campeão Olímpico Nacional.
O Dr. Mauperrin Santos, sócio da ANL e director da Escola Académica, era o grande mentor e organizador destes eventos.
A primeira sede do COP foi nas instalações desta Sociedade, sita no Largo do Picadeiro, sendo a primeira Direcção constituída por:
Presidente de Honra: Conde de Penha Garcia
Presidente: Dr. Jaime Mauperrin Santos
Vice-presidentes: D. António de Lencastre, Charles Bleck e Manuel Egreja.
Secretário-geral: Dr. José Pontes
Secretários: Aníbal Pinheiro, Armando Machado e Duarte Rodrigues
Membros: Álvaro de Lacerda, Dr. António Osório, Daniel Queiroz dos Santos, Fernando Correia, Guilherme Pinto Basto, Manuel da Cunha e Menezes, Pedro Del Negro, Dr. Pinto de Miranda e o Dr. Sá e Oliveira.
Desta primeira Direcção faziam parte destacados sócios da Associação Naval de Lisboa: distinguimos aqui o Presidente de Honra, o Presidente da Direcção, o Secretario Geral, entre outros. A participação de sócios da ANL nos corpos gerentes do C O P tem sido contínua ao longo dos anos, contando-se entre os membros das Direcções, Francisco Duarte, Ricardo Pereira Dias e, recentemente, o Eng. Lima Belo, ex presidente e actual representante do COI em Portugal.
A dimensão simbólica nacional da primeira participação nos Jogos Olímpicos ficou registada para a posteridade, por Joshua Benoliel, nesta fotografia tirada na Praça do Comércio, à época palco de celebração dos acontecimentos mais importantes do País.
A primeira participação olímpica ficou marcada pela morte trágica de Francisco Lázaro, facto que motivou uma grande onda de solidariedade culminada com a construção de um Mausoléu para o Campeão Português.
Dos atletas integrados na primeira comitiva olímpica, destacamos Joaquim Vital, Remador e Lutador da ANL.
Enquanto remador, foi vencedor da Taça Lisboa e da Taça Mondego, duas das mais importantes provas de Remo existentes à época.
Enquanto Jornalista, fez a reportagem do evento para os Sports Ilustrados; desportista de eleição, praticava ainda esgrima, sendo por esta altura também director da secção de Luta da Associação Naval de Lisboa. Vemos aqui nestas fotos, no ano de1915, em pleno Duelo, defendendo com honra as suas convicções.
O eclodir da I Grande Guerra motivou a interrupção dos Jogos durante o conflito.
Sabemos que o Remo se preparava para uma boa participação em 1916, e que nos Jogos Interaliados (competições organizadas pelas tropas da Aliança para moralizar e entreter os soldados), efectuados em Paris, um misto de remadores da ANL e do CNL participaram nas provas de Shell de 8 e de Shell de 4.
Faziam parte destas equipas os remadores da Associação: Rodrigo Bessone Basto, José Serra Pereira, Humberto Reis, Correia Leal, António Ferreira, Ricardo Pereira Dias, Augusto Talone, Jorge Ferro, Carlos Sobral, João Sassetti, José Branco, João Silva e Gabriel Ribeiro.
Em 1920 foram retomados os Jogos e a famosa Bandeira com Cinco Anéis Coloridos, símbolo da Paz entre os Povos, foi pela primeira vez hasteada nesta competição, ao mesmo tempo que se iniciava a leitura do Juramento Olímpico por um atleta.
João Sassetti, exímio Remador da ANL, vencedor da Taça Lisboa, integrou a comitiva Lusa presente em Antuérpia, sendo contudo em Esgrima que representou Portugal nesse ano. Esteve também presente nessa modalidade em 1928, tendo vencido a medalha de Bronze. Oito anos mais tarde, foi o chefe da delegação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Berlim.
A primeira representação olímpica portuguesa da Vela em 1924, deve-se igualmente a um associado da ANL, Frederico Burnay. Notável atleta, foi membro do Comité Olímpico Português e Presidente da Federação Portuguesa de Remo, tendo chefiado as presenças de Portugal nesta modalidade, em 1948 e 1952.
Nos Jogos de Amesterdão (1928) além da presença espectacular que nos honrou com o Bronze para a nossa equipa de Espada (que incluía João Sassetti), integraram a comitiva nacional os associados velejadores Frederico Burnay, Carlos Eduardo Bleck (herói da aviação e um dos fundadores da TAP), Ernesto de Mendonça António Guedes de Herédia e João Penha Lopes, um exímio remador que integrava também a equipa de Sassetti vencedora da Taça Lisboa em Remo.
Na Alemanha de Hitler, além do chefe da Delegação, João Sassetti, marcaram presença na modalidade de Vela os sócios da Associação Naval Ernesto Mendonça, Joaquim Mascarenhas Fiúza e António Guedes de Herédia.
Após a II Guerra Mundial realizaram-se, no ano de 1948, em Londres, os Jogos que proporcionaram aos nossos consócios Duarte e Fernando Bello a conquista da medalha de Prata em Vela, na classe Swallow, mesmo correndo numa embarcação emprestada. O protesto de outra equipa concorrente retirou-lhes contudo a vitória. Mas nestes Jogos, os associados da ANL estiveram de parabéns pois, além destes campeões, estiveram também presentes nas regatas de Vela João Miguel Tito, Joaquim Mascarenhas Fiúza, Júlio Leite Gourinho, João da Silva Capucho, António Guedes de Heredia e Henrique Sallaty. Uma embaixada extraordinária!
Seguiram-se os Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, durante os quais o nosso homenageado de hoje, velejando num Star, conquistou mais uma medalha de Bronze para a Vela portuguesa, o que muito honrou a Velhinha.
Fazendo equipa no Espadarte, Rebello de Andrade e Joaquim Fiúza foram o expoente máximo de mais uma grande embaixada do nosso clube, a saber: Mário Quina, os irmãos Bello, Júlio Gourinho, João Tito, Alberto Graça e Carlos Lourenço.
Decorreram em Melbourne os Jogos Olímpicos de 1956, à excepção das competições equestres que tomaram lugar em Estocolmo, em virtude das leis de quarentena que impediam o ingresso de cavalos na Austrália.
No país dos cangurus, a representação da Vela portuguesa voltou a ter membros da ANL. Desta feita os seleccionados foram: Duarte Bello, José Bustorff Silva, o Conde de Caria Bernardo Mendes de Almeida, Sérgio Marques e Carlos Lourenço, tendo os dois primeiros alcançado um quarto lugar em Star, no Faneca, falhando o pódio por pouco.
Na edição seguinte, os nossos associados os irmãos Quina, José e Mário foram as vedetas da comitiva portuguesa, ao conquistarem a medalha de prata no Má Lindo. Faziam também parte da Armada da Associação Naval, os Velejadores Carlos Ribeiro Ferreira, Joaquim Pinto Basto, Gonçallo Pinheiro de Mello, Fernando Bello, Júlio Gourinho e Duarte Bello, sendo de acrescentar a presença, na modalidade de Luta, de Luís Vieira Caldas. Foram estes os Heróis de Roma que participaram nas Olimpíadas de 1960.
Foi no País do Sol Nascente, em Tóquio, que se realizaram os Jogos de 1964. Com uma presença discreta mas não menos importante, a delegação portuguesa era composta, na Vela, por Eduardo Queiroz, Joaquim Pinto Basto, Carlos Ribeiro Ferreira e os Irmãos Bello, todos eles associados da Associação Naval de Lisboa.
A 2134 metros acima do nível médio das águas do mar, decorreram os Jogos Olímpicos de 1968 no México. A terra dos Aztecas não foi de boa memória para a participação portuguesa, cujos atletas não se conseguiram adaptar à altitude. Nestas olimpíadas, estiveram presentes os irmãos Quina, Fernando Belo e António Sarafana, todos sócios da Associação.
Nas mais negras Olimpíadas de sempre, Munique 72, a Política, o Terrorismo e a falta de Fair-Play, conseguiram superar os valores “Citius, Altius, Fortius” que o Barão tinha idealizado para os Jogos.
Na Vela, contaram com a participação dos associados da ANL, José Manuel Quina, António Mardel Correia e Henrique Anjos.
No Remo esteve presente José Lopes Marques em Skiff. Uma presença discreta é certo, mas a chegada tardia das embarcações de remo, só disponíveis para treino na véspera das competições, em muito contribuiu para a fraca prestação desportiva. Outro factor de peso terá sido, segundo testemunho oral a nós facultado por este associado, o stress provocado pela ida diária dos atletas à pista, na esperança de as encontrar.
Nas edições seguintes a participação da ANL não foi tão profícua. Destacamos no entanto, na modalidade de Vela, a presença de Joaquim Ramada em Montreal,António Mardel Correia e Henriques Anjos, em LA e Patrick Monteiro de Barros, em Seul.
Apesar de nenhum atleta da Associação Naval de Lisboa ter estado presente nos Jogos de Atenas, estes serviram de rampa de lançamento para o ingresso de mais uma de modalidade, desta feita nos Jogos Paralímpicos. Deve-se essa proeza ao excelente trabalho de José Nunes na Comissão Organizadora da modalidade de Remo com o objectivo, alcançado, de incluir o Remo no programa dos Jogos Paralímpicos. Uma conquista do nosso sócio, da FISA e da FPR.
Mais uma vez, através do associado José Nunes, a ANL está presente na escrita de mais uma página brilhante do desporto Português e Mundial.
Queremos, por último, salientar a constituição do Comité Paralímpico de Portugal, no ano transacto, que na sua primeira Comissão Executiva conta também com a presença de um sócio da Associação Naval de Lisboa.
Apesar dos seus 154 anos a ANL mantém um destacado envolvimento no panorama desportivo nacional. Os seus membros (nomeadamente José Nunes, Francisco Lobato, Pedro Mendonça, José Caldeira e outros), dignificam as suas modalidades e continuam a elevar o nome de Portugal bem alto no Mundo, vencendo desafios e dirigindo o Remo e a Vela para a Náutica voltar a conquistar a excelência e o lugar de destaque que já foi seu no desporto Nacional.
Autores:
Ana Nunes
Carlos Henriques
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